terça-feira, 21 de dezembro de 2010

anuncio

tablóide - VENDE-SE BANDA SONORA PARA SUICÍDIO - tablóide

rapaz jovem, 22 anos aproximadamente, oferece-se para criar bandas sonoras para quem se deseje suicidar, tipo filme

200€ a peça musical ... não peço mais porque sei que as famílias dos suicidas precisarão do resto para o funeral e para cobrir os danos psicológicos... de qualquer forma posso fazer desconto familiar para os que se desejem matar a seguir, caso não aguentem o desgosto (175€ para cada)

Se alguém não souber como se matar, poderei, por 500€, eventualmente, criar um vasto leque (e toda uma panóplia) de músicas para motivar a criatividade suicida.

O meu portefólio encontra-se online em www.mypsace.com/vermeproj ; exemplos de todas as hipóteses sugeridas neste anúncio.

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com o apoio de Catarina Silva & Nuno Borda de Água

escuro

pegou então no caderno. na caneta. num copo de agua.
esqueci-me das letras maiúsculas, e já não sei onde moro.
merda.
não tenho mais que um caderno por riscar, rasgar, dobrar
faltam-me as palavras
falta-me claridade

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

sol / chuva

já sem fôlego, sem paciência, farto de tentar dormir, acordou finalmente e cedo demais. pensou demais durante a noite, esperou muito por acordar da mesma forma que acordara antes, apenas se os dias se mantivessem iguais. não chorou quando viu que não era só mais um pesadelo - só porque tinha mais que fazer.
choveu... o sol deixou de aparecer no amanhecer do quarto... os lençóis deixaram de estar quentes na cama toda... o seu lado direito ficou frio, vazio, despido. o sol escondeu-se de propósito? não... a chuva só estava com pressa...

sábado, 18 de dezembro de 2010

entre rochas

sussurra-me o sossego dos pássaros
estalar breve, contínuo, das águas
vento fresco, brisa, badaladas por entre as rochas e o musgo
caminho, longe, um deserto verde
longe da minha lua e do espaço que nos envolve

viagem psicotrópica ao museo vostell, malpartida de cáceres

Fim de Cáceres
Rim de Pássaro
Passa-me o sal
"fecha um bocado a janela
sff"
e a curva é à direita
Passa-me a pimenta
Sinais, transitando vacas
Custa-me manter os olhos abertos
Conduz com uma mão

Sal, a mulher que era manca
Gostava de ter um pónei,
mas o carteiro só me trouxe um melro
Que Hotel tão piroso!

Oh Sol, vais em contramão
passa para este lado, então?
As vacas que bebem do charco
esqueceram-se dos óculos de sol
Um chuto para a veia de sabão azul e branco
Esfrega bem as costas que amanhã é dia de festa
Como é que róis as unhas dos pés?

Chapa y pintura
alumínio de alcatrão, prisão
prisão de vento

eu avisei-te que era melhor vestires as calças
2km antes deixaste uma das ovelhas nadar no charco
Ora! Parece-me que tens um coelho no bolso esquerdo
óvelha da ovelha
"Estamos no caminho certo?" perguntou a alface vidente
"Monumento Natural de los Barruecos" respondeu o cacto
"Estás com os olhos em bico" retorquiu a alface
Dizia para virar ali - "Estou com fome"

Gado permanente
não há tomate que aguente.

João Mendes de Sousa
Marta Ferreira
Nuno Mangas-Viegas

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

comboios

perdido no teu ventre-olhar
gritos de almas desiguais

.

viajou quilómetros
com um mocho às costas
poisou, finalmente, os pés de madeira
na terra

sentou-se no empalhado do assento
à beira de uma linha de comboio inactiva
há anos.

quedou-se
esperando a chegada de outros
de almas desiguais
que se sentem com ela

fico-me, retido, no teu olhar, no ventre do teu olhar

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A corda segurava a gravidade dos lençóis esvoaçantes que ainda sonham com a nossa presença. Abrem-se os lençóis como asas que preparam o voo, as molas coloridas apertam-se cada vez mais, o lençol queria subir aos céus pelas estradas dos ventos e desaparecer na ultima linha do horizonte mas, as molas, firmavam-no à terra num golpe de força cruel. Ainda aqui estás, sim. A corda traçava o ar, as molas apertavam. - Já não se pode voar? – perguntava o lençol franzido. - Goza lençol. – respondiam as mãos que o apertavam às molas. – Tu que enrolas em ti o voo mais perfeito, aquele que não carece de asas para voar, no ninho de nós dois. Ó pássaro que me invejas, guarda as tuas asas para ti, pois eu guardarei as minhas para mim enquanto o ar reter a tua essência. - Abre-se a janela, entram ventos da memória. Recupero o dia de ontem numa simbiose perfeita com o momento presente e, sem outras explicações, tudo renasce à medida da imaginação. O vento continua a soprar o desejo de voar para longe; as molas continuam a forçar, a prender o voo. O lençol não desistiu, foram os ventos que quedaram para lá do momento e do espaço e desapareceram, e voltam mas, voltam apenas em efémeras e fugazes presenças. O lençol, seco de lutar, dorme por fim, e com ele dois corpos sucumbidos pelo contágio do desejo de voar.