terça-feira, 3 de maio de 2011

(chegámos na despedida...)

...à entrada de uma antiga moradia, diferente entrada... entrei para dizer adeus!
...habitada por estranhos, algo familiar...
...as mesmas paredes de pedra ainda murmuram, baixinho... sons abafados, música Melódica...

...porta abre-se, a mesma chave no esconderijo de sempre...

...cheiro, o mesmo cravado nas paredes de pele lisa e adocicada;
o mesmo perfume nas cortinas como cabelos de cetim...
disse adeus e entrei, o mesmo adeus...

...as palavras quentes, as mesmas, dos gestos do mesmo corpo... e novas dúvidas, novas loucuras efémeras...

...lençóis consomem-se, novos côncavos de desejos vermelhos.... “entre dois mundos, entre duas vidas, entre dois destinos”... e controlas o fogo dos sonhos como que por artificies de feitiçarias... luzes fortes cegam o cego... lençóis rasgam-se em formas, como os dias que se rasgam disformes... são corpos em busca da perfeição possível, momentos sôfregos... a lua não interessa para nada... gentilmente tortuosos... momentâneos momentos... afáveis de crueldade... prazeres carnais, luxúria! e os sorrisos indiferentes a outros tempos... e cessa, tudo cessa na mais bela Melodia...

...vamo-nos despedindo como quem da vida se despede...

...dizemos adeus com outras palavras... moradias “onde o preto e o branco se tornam insignificantes”...

...tiramos a vida à sorte, e à morte jogamos antes do cair do pano...

...sem razão, sem ética, sem moral, sem justiça, apenas a estética duma foda... sem sentido, sem futuro, sem presente ou passado, sem qualquer realidade, apenas extasiados de foder... (e dois corpos consumiam-se em despedidas apressadas da vida)...

...vamos prolongando a despedida até de manhã...
queríamos, por momentos, morrer ali,
cessar apenas porque éramos demasiado elevados...
como o azul e o amarelo –impressionados...
quando saíres, não digas adeus, sai apenas...
ficarei a sonhar talvez, nada mais...
e despede-te mansa como a morte nos abraça...

...certezas? caem sem ter chão! Caem sem cair... fazem o movimento circular como se nunca tivessem existido... fica a eterna dúvida entre o partir e o ficar... nunca se está, simplesmente...

Coisas há que partem e coisas que ficam... no seu “ser sempre uma questão para a qual a resposta restará incompleta”... e mesmo ao partir... um botão perdido no sótão da memória resta, algures... e apareces depois sem que te chamem e ficas projectada na parede, a olhar para mim, como se tivesses alguma realidade...

É o cheiro dos anos, fluidez aprazível e odiosa... “a vida não tem sentido sem essa busca incessante do puro”... e fica sempre alguma coisa que escapa... e restam as sombras, as sombras das memórias cravadas nas paredes... e “as palavras, insuficientes”...