quarta-feira, 27 de março de 2013

Epidérmica Contracção

É talvez as vezes todas que não vejo o reflexo de mim. Todas elas sem excepção, sem linha de continuidade. Não há reconforto no esquecimento quando ele se sai como em piro-técnicas exalações de alma.

Olho para o lado em sopro introdutório,
e já espreita a matilha de versos...
Já caiu de mim faz todo o tempo (o meu pelo menos),
mas quando volta esquece-se a falta de tormento...

Esclerótica carícia que me embala,
onde nada é novo ou ruidoso,
é um incompleto eco vindo de uma caverna,
abrasador de gelos perpétuos.

Se não saio daqui hoje, eternizo-me...
Expando-me em contracções,
Mirro-me todo... que chatice.

poema de comboio #11


cá se vai… e tu foges e corres e saltas
mas não apanhei nada pelo caminho, andando
com a cabeça…
e eu fujo e corro e pulo entre as orelhas…
são duas da manhã e o candeeiro lá fora continua a confundir as galinhas do vizinho. Aqui não há mais nada que me faça crer que vivo, que faça querer a vida, que me faça lembrar quem és. só três da manhã – são horas de despertar as quatro e eu não sei porque estou na cama e não na varanda. Lembro-me. sei quem eu sou apenas parcamente falando

e tu saltas tu corres tu tu tu… cá se vai
é difícil estar a tempo andando com a cabeça
não não apanhei o comboio mas estou lá dentro enquanto miras
e eu fujo e corro e pulo murmuro entre as orelhas

ontem quando as palavras não se sabiam escrever e ainda esperávamos a primeira aula de terapia das falas, falavas como se nada fosse importante nada tinha real valor e era tudo tão cheio de significado sem o dicionário
ontem o hoje que ontem implicava haver num amanhã apenas despertado num sonho carregado entre nuvens de olhar e cinza. Como se nada fosse realmente cinzento e como se tudo estivesse pleno de cores só tuas.