existe sempre um amanhecer nostálgico. o meu corpo, leve como esferovite
pesado como água, não se levanta, e os olhos colam
ligo a música e as notas fogem d'encontro às memória
há um cigarro semiapagado no cinzeiro, que ela deixou lá, fugido e solto
e um igorte estranho para comer antes de fumar
há um fim amargo no meio de todas as coisas que, como chuva, evaporam d'encontro ao chão do nosso preste
o passado torna-se o fumo que exalei entre estas paredes,
que certamente manchou as outras, onde o fumo das torradas quase queimadas servia de sinal para o despertar dum dia mais
o calor infernal e o frio que o acalma estão uníssono na rememoração
e há uma dor parecida a todas as outras que não se cala,
e eu - que ainda tenho o ouvido doente desde então - ainda tento chegar às 23h da noite nesse mesmo sofá onde tudo começou
sigam fumos e procurem onde tornar matéria a imagem mental das pedras que pisámos