Soletrei
as pétalas da mentira,
as
lágrimas de sangue fingido,
o ócio
voraz, taciturno,
denunciado
pelo delírio de meus olhos,
sombra
de meu porto seguro,
precipício
das palavras impróprias
num fôlego abreviado,
existencial...
Ainda
permaneço encoberto
pelas
portas da metafísica,
metamorfoseando
a falácia da morte,
as
pétalas cruas e peculiares
da
sepultura de oiro.
Hoje
sou verso, sou vício,
sou
voz de um quadro,
pétalas
de sol e de fogo
que me
procuras...
Marco
Mangas @ 01 de Abril de 2015
(Quadro: acrílico s/ cartão, técnica mista @ Nuno Mangas Viegas)
Alguém, neste mesmo blogue, com o mesmo nome que ora assinou este poema, nos disse:
ResponderEliminar«A morte
navega à bolina, num rumo sem fim,
de mãos dadas com o mar.»
Não foi a primeira vez que num poema (e este chamado mesmo Poema...) Marco Mangas nos presenteia uma visão abissal na sua escrita, uma imensidão, uma infinitude de possibilidades que aparentam ser tão desejáveis como assustadoras. É engraçado como sempre nos aparecem nos poemas do Marco elos de ligação com as imagens que os acompanham (ou não) - tornando às vezes desnecessária essa companhia (não que não façam falta), pois os elementos plásticos estão sempre presentes. O poeta permanece mascarado de morto, ou talvez saltando para a morte a cada poema e, neste caso, o poema é a vida, os dias que passam, as letras que sobejam.
«O seu leme
continua rasgando o espelho,
rasurando a palavra
nesta inútil viagem de papel reciclado.»
E depois temos uma dúplice visão dessa vida... é um poema? é um papel rasurado? é uma tela?
Será que obtemos resposta neste "Sem pétalas"?
«Hoje sou verso, sou vício,
sou voz de um quadro,
pétalas de sol e de fogo
que me procuras...»
O poeta é sempre o seu verso, mas no caso do Marco é também um grito plástico, saltado de fotos, de cores, de telas, de jogos de luzes que o estimulam e parecem servir de chão, de cenário ou de pretexto apenas.
Neste jogo de palavras o amigo Marco vai analisando o seu próprio processo de construção, desde o primeiro ao último verso, desde o primeiro ao próximo poema. Analítico da sua própria construção de sentidos, construtor de imagens, de paisagens, filósofo da vida e da morte.
Em Junho de 2013 (dia 14), o Marco estreou-se aqui no AEQUUM. Pareceu-me bem lembrar alguns dos seus poemas que nos mostram sempre esta simplicidade complexa que é ímpeto de escrever, como um dia disse uma professora que não mo deixou esquecer "escrever é uma pulsão para a morte".
Obrigado pela contínua colaboração Marco.
S(A)úde e um Abraço!
http://aequum-equidade.blogspot.pt/2013/06/um-poema-inacabado.html
http://aequum-equidade.blogspot.pt/2013/06/tela-branca.html
http://aequum-equidade.blogspot.pt/2014/03/sem-poesia.html
http://aequum-equidade.blogspot.pt/2014/01/preterito.html
http://aequum-equidade.blogspot.pt/2015/01/o-poema.html
Caro João, em primeira instância, agradeço a tua aventura e “coragem” envolvidas neste teu comentário crítico e bem fundamentado sobre esta inércia de palavras (minhas).
EliminarEstá bem vinculada essa dicotomia vida-morte em cada verso pisado, traduzido em complexa simplicidade e vice-versa, num processo natural e involuntário da escrita, conjugado propositadamente ou não, com imagens, fotos, telas, esculturas, certamente interligadas com a poesia e sua construção.
Fazer referência ao passado e recordar o meu (pequeno) trajecto delineado no blog AEQUUM, é sempre um acto de enaltecer e agradeço-te mais uma vez…
Arde um poema, morre um vício!
Forte abraço companheiro.