segunda-feira, 17 de junho de 2013

Um pretexto

Levámos anos a perceber isso, que a tua pele é activada por muito
mais do que um murmúrio, algo entre o que há de silêncio
no meu corpo e de grito no mundo que só eu conheço.
E as covas que em ti não covas mas concavidades,
e a vontade que em ti não vontade mas desejo,
e o amar que em ti não amar mas o sopro a que o meu corpo se sujeita
de cada vez que tu... Saímos de uma mesma possibilidade e tornámos
vago o mistério que nos envolve,
conhecêmo-lo,
mas vamos além do complexo que nos ordena.
E sabemos, os dois, sabemos,
como é simples o intrincado que nos arrasta pela vida fora
e nos impele a viver.
Mas a vida pouco sabe dos nossos sons,
das nossas crenças,
do vago que nos trouxe até ao que somos
nem conhece o pretexto que criámos apenas para que
nada se nos acerque.
Seria indelicado falar-lhe de tudo isso.







4 comentários:

  1. Bem-haja pelo regresso das tuas palavras a este espaço, amigo Vicente. E ei-las, mansas ainda que inquietas, planadoras ainda que subterrâneas... palavras-asa-granito. Abraço, amigo. Encontrar-nos-emos, como é apanágio, numa qualquer biblioteca (com ou sem bolinhas de berlim).

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  2. Gostei! Não irei arranjar outro pretexto para caracterizar o que li. Ao (pre)textuar correria o risco de me auto-limitar em palavras...

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