sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fogo-se!

bom dia
esqueci-me de apagar o cigarro
sei como te incomoda o fumo de um cigarro quase apagado
sei como te irrita o cheiro a cartão queimado
ou talvez seja o perigo do vidro derreter que te chateia

boa tarde
já me lembro como se conduz
sei como colocar a chave na ignição sem fazer força
sei como pôr a embraiagem para meter a primeira
ou talvez saiba melhor como fazer o ponto

boa noite
cheguei, de cigarro mal apagado e queimei-te os estofos
sei que é a última vez que poderei conduzir fumando
sei que é o último cigarro que não apago em condições
ou talvez seja só a primeira vez que uso um extintor!

Despertares...

Dos ovários da manhã
arranco a raíz a que me seguro
para que possas despertar
sem arames nesses membros...
- que invento para ocasiões de vício -.
A tensão baixa de cair na calçada
à porta do disfarce
-hesitação habitual de quem
de raiva-a-raiva, extinto -
demora-se por defeito
na ferrugem do prematuro movimento
- primeiro grito anterior ao susto -.
Indecido-me por insensatez dialética,
conflito que de extremos sabe a face,
que de respirar prova mares
- oblíquos, opacos, outros... -.
A invenção de novos dias
traz no bolso pequenos ossos...
desequilibrios que o real
se esqueceu de estudar.

Agora que acordaste, digo-te "bom dia!"
Se ao menos me pudesses ver...

noite noite noite em 10 de Outubro, hoje

10 De Outubro de 2010
E já era noite nos meus dias.
Tive de acender a luz na estrela da minha manhã
E o peito foi-se rio abaixo nas ondas de um mar longe
Rolei no escuro como granito arredondado e trôpego
E esbarrei na ausência da vontade de ser sorriso todas as noites.
Que sonho foi este que me assaltou a felicidade
Para fingir ser verdade e afinal ser só noite sem lua cheia?
V

.pt

Eram corpos e ventos. E havia luz.
A luz dos olhos que olham com um olhar cintilante.
Numa sala vazia de quase tudo menos incerteza, onde reinava a confusão.
Saltitavam horrores e prazeres e emoções que nunca foram tuas.
Com mãos de cordas de guitarra, aquela que toca sem nada alcançar,
fez um gesto melódico, um gesto que de pouco adiantou.
Não havia propagação ou retorno, nem reverberação ou resposta.
Pelo que soou, perturbou e desvaneceu.
Havia um cheiro, cheirava a terra molhada e a café.
Os pés descalços e as mãos frias, agitados por natureza, eram agora calmos e pacientes.
E assim ficaram até tudo terminar.
Agora continuam corpos e ventos. Mas há menos luz.