quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um existir sem vida

   A força da luz carrega-me nos ombros a obrigação de suportar mais um dia passado num existir que não existe em existência. Componho-me do que não é, do que não se decompõe, de um não existir físico que irrompa a luz secular e a escureça. Ninguém me sente porque não me sinto, não me perco no que desconheço e não morro no que não vivo. Poderemos viver não vivendo, ou teremos de encontrar nesse não viver algo vivo que nos dê a vida? Será o sonho o viver já essa vida? Ou será uma manipulação do não viver tentando obter o que se vive? Enganos, é isso. Tudo o que pensamos viver - o não viver - é um engano do viver que nunca viveremos. É um jogo que a vida, aquela que nunca conheceremos, nos impõe, fazendo-nos acreditar num real ilusório, num viver sem substância de vida. Perceber isto é já um fracasso da vida, não da que erradamente pensamos viver, mas da que nos mantém suspensos no acreditar viver. Aquilo a que chamamos vida é um engano em que vivemos: a verdadeira vida, onde o viver real habita, muito poucos a conhecerão. E os que a conhecerem terão apenas um ténue pulsar desse viver a vida.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

FMI

fomos correndo, escorrendo água da testa, como se o / mundo fosse realmente nosso ... vivemos para além das nossas capacidade / inserimo-nos em estilos de vida que não o nosso para nos pormos ao mesmo nível / fugimos sempre tarde demais, ficamos a ver os navios passar carregados de / merda que intupirá ainda mais os esgotos das cidades deste país e os caminhos das poucas aldeias verdadeiramente portuguesa à beira de perder qualquer sinal de autonomia e indepedência ou identidade (somos obrigados a aceitar o moderno como o único caminho do homem ... quando há resistência é porque somos velhos do restelo, quando não há é porque somos conformados...) / fomos, somos, éramos, por aí fora... e agora não serve de / muito continuar aos gritos. falta cá zé mário branco a gritar-lhes bem no ouvido - seria / impossível de ficarmos apáticos, sentados com o cu no sofá, sem opinão nem opção /
passo a citar: "FMI não há graça que não faça o FMI FMI o bombástico de plástico para si FMI não há força que retorça o FMI... estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreverílvelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas, pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta (...) eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero que se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro (...) e a Rainha de Inglaterra (...) deixem-m só porra, rua, larguem-me (...) filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, badamerda o FMI, o FMI é um pretexto vosso seus cabrões, (...) O FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua desandem daqui para fora a CULPA É VOSSA, A CULPA É VOSSA, a culpa é vossa; A CULPA É VOSSA (...), oh mãe, OH MÃE, oh mãe..." /

fomos gritos e revoltas até nos calarem suavemente a boca e hoje não temos a quem chamar filhos da puta. chamamos sempre aos /mesmos, e não temos um solução, nem digo que seja a / ideal, mas uma que seja... ainda para mais... os zés mários brancos que havia em nós estão caladinhos e escondidos , né filho?
(pesquisa no YOUtube - "Jose Mario Branco - FMI"... quando ainda tinhamos vozes dignas e a sério, gente que dizia palavras a sérios, gente que era gente e humanos a sério).