A força da luz carrega-me nos ombros a obrigação de suportar mais um dia passado num existir que não existe em existência. Componho-me do que não é, do que não se decompõe, de um não existir físico que irrompa a luz secular e a escureça. Ninguém me sente porque não me sinto, não me perco no que desconheço e não morro no que não vivo. Poderemos viver não vivendo, ou teremos de encontrar nesse não viver algo vivo que nos dê a vida? Será o sonho o viver já essa vida? Ou será uma manipulação do não viver tentando obter o que se vive? Enganos, é isso. Tudo o que pensamos viver - o não viver - é um engano do viver que nunca viveremos. É um jogo que a vida, aquela que nunca conheceremos, nos impõe, fazendo-nos acreditar num real ilusório, num viver sem substância de vida. Perceber isto é já um fracasso da vida, não da que erradamente pensamos viver, mas da que nos mantém suspensos no acreditar viver. Aquilo a que chamamos vida é um engano em que vivemos: a verdadeira vida, onde o viver real habita, muito poucos a conhecerão. E os que a conhecerem terão apenas um ténue pulsar desse viver a vida.
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