quarta-feira, 25 de março de 2015

poema de comboio #69

as cabeças rebentam sem mestre
rápidas como um comboio
velozes como tudo aquilo que mostra ser muito rápido

chovem elegias e elogios e coisas que nunca te interessariam
porque não compete ao serviço ser-se elogiado

as palavras como comboios atravessam as linhas
em choque, em colisão veloz com o mestre,
os serviços ficaram feitos, terminados em hora certa
sem horário para cumprir
mas em hora certa

não terás honras para além das rápidas palavras
saídas das cabeças do comboio
rompendo as férreas linhas velozes e elegíacas

escreverei quantas linhas quiser
numa tímida arrogância que me aponta
o sentido cascais, o sentido cais-do-sodré, o sem-sentido
o sem-velocidade, parcos momentos que não chego a tocar

está frio
está demasiado frio para quem escreve
as explosões tardam e as taras abominam qualquer um
que sem serviço se propõe a chocar com o combóio

as coisas voltam ao seu ovo
quebrando cascas como se quebram as cascas dos ovos
dentro do ovo estava o mestre
sem cabeça
veloz como tudo aquilo que tem de ser veloz

demasiado veloz


(não gosto nem acredito em homenagens destinadas às massas, nem acredito no descanso eterno,
as palavras ora escritar são apenas um relembrar de herberto)