Culpe-me doutor juiz que sou culpado!
Sou inapto à sua sociedade e deverei ser castigado por desejar demasiado, demasiado para o homem que com tão pouco da vida vive...
Mergulho na minha noite intranquilo e sôfrego, e ainda fico sem respirar perante a dor que o sistema provoca, e a minha noite aclara um pouco...
Culpe-me senhor padre que pecarei até morrer!
Culpe-me senhor político que voto em branco!
Culpem-me que sou culpado de desejar demasiado, sou homem para vós desajustado...
Culpem-me por desejar demasiado para o homem que é pobre da sua riqueza... culpem-me se desejo caminhar contra a corrente... é que custa ser obediente... é este desejo de viver a humanidade em pleno que não me abandona...
Culpe-me doutor juiz que sou culpado!
Considere-me louco demasiado para habitar na vossa triste realidade. Despir o casaco de economista e a gravata de político que costumamos usar, prefiro mil vezes enlouquecer em cada segundo da minha vida a vestir tais trapos... Desculpe mas preciso de mais tempo para enlouquecer um pouco mais, ainda as entranhas de onde nasci se esvaem em sangue espesso... mas sei que conseguirei ser um louco, bebo do néctar da demência... Mantenha-se o doutor nessa prisão se é que me percebe... ou então, depois que apodreça e eu consigo de igual, talvez já não se sinta tão inchado e me entenda melhor...
É que a verdade tarda sempre à justiça das coisas... (ecoava)
Verdade papal e sistémica, e moleza das vidas fartas, desalinhado não quer ser soldado, nem tempo tenho para enlouquecer...