segunda-feira, 27 de junho de 2011

crónica

foi como se sonhasse fumegando a existência saltas-me do ecrã como se a vida fosse, afinal, virtual o ócio que fumega e entrei na mesma sala onde estiveras para reencontrar futuros antes sonhados. tudo em vão no mais puro vazio que existe entre o ponteiro dos segundos e os outros dois, acelerado e por instantes compatível acendendo um cigarro rastejei da porta de uma sala à outra, como se fosse eu o tempo que rasteja entre as cidades que deixamos fumando a vida até à morte [mas quem me disse que era assim?] deixamos e procuramos novos rumos sem nunca entrar na sala em que viveste morrer a cada fumo que exalamos e acreditei que estava mesmo onde querias, pré-visualizando as atitudes que eu conheço existem em intervalos de fumo as vidas que a morte deixou de parte [não me fodas, continuas sem saber que é assim?!] e quando por fim, no final do dia, vi escurecer o céu em sinal de finalização de uma árdua tarefa pessoal nascendo de manhã morrer-se-á de tarde? beijando o solo e o barro e a chuva, chorando sal derretendo o gelo da frieza, tranquei-me na tua sala, como quem está meio morte mas ainda pensa viver [estás vivo? estás tão gelado]

sábado, 25 de junho de 2011

há algo de errado no mundo?
o mundo está errado?
será errado estar no mundo?

e o relógio toca

tens um auricular novo e falas enquanto
fazes as compras para o mês de abril (sem
maiúscula, porque obedeceste,
e já não sabes como escrever os meses)

será errado haver mundo?
é um erro ser o mundo?
haverá algo certo no mundo?

e o telefone toca

tens uma borbulha no cérebro de tanto
falares das mesmas coisas atualmente (sem
"c", e já sabes porquê)

e o telefone toca com o relógio
combinaram às duas para beber um brandy-mel
e a vida gira
e o mundo engana-se
e o homem morre

terça-feira, 21 de junho de 2011

A fuga presa nos meus olhos


É no cantar surdo da minha alma
que te conheço
É no voo do corvo negro que vejo
o claro dos teus olhos, e ter eu o
carvão para os desenhar, para os fazer
meus e fugir do mundo como quem
foge ao destino, distraído,
desconhecedor do alcançar o amor,
e tê-lo, todo, continuamente estendido
em tapetes púrpura amaciados por
cândidos dedos, iguais aos que imagino teus,
e deslizar no espelhado do teu corpo, e não tocar,
o mais ténue contacto, e ainda assim encher-me
de ti, do que te faz, e correr mais ainda,
num fôlego constante, e nele encontrar o ar
que me permita ao parar ver-me longe,
continuamente longe,
deixar de me ver e por isso ter-te sempre presente
nos meus olhos.

domingo, 19 de junho de 2011

na varanda

da varanda olhas-me com os olhos brilhantes
ah, tu estás aqui em baixo! aperto-te o abraço
engulo em seco. Viro-vos costas

a minha mãe, como mãe que é, oferece-me um lenço de papel.

Arroyo de La Luz!, ligeiro desvio a caminho de Alcántara

o empregado de mesa tem uma carne divinal...
uma foto do Che "colgada en la pared" e o campo em torno da vila citadina
"Obrigado!" diz-me ele... e ali abraça toda a realidade de raya

da varanda - ainda estás na varanda martinha? - tanta cinza caiu dessa varanda
tanta casca de pipa

acordei hoje de manhã e não estavas a dizer asneiradas!?
"não há césar nem meio césar"
"já te disse para tirares o indiano da boca"

escutem! aquele "bocadillo" estava demais... deviam passar do arroyo antes de deixar cáceres para trás

Mas que digo?

já guardei o lenço de papel no bolso...
vou contemplar a paisagem e fumar um cigarro, como se tivesse na cozinha
com a cafeteira derretendo-se por dentro... mas afinal onde ficou?? vai para cima? vai para baixo? vai para o lixo?

fecho a porta do carro,
deixo as lágrimas escorrerem-me pelo rosto abaixo e espero
entre o fumo e a luz da ponte de Alcántara
um eterno até já que as cegonhas transportam nas penas que deixam cair em tuas mãos

ainda estou na machacona aos gritos a teu lado
ainda estou na varanda do bar a dizer merda com todos vós
ainda estou no gabinete lá em cima a levar filmes
ainda estou no colmendralejo a ver as coisas mais belas da vida, as mais simples, as únicas que dão mais certeza à vida aqui

ficou mais um pedaço meu, em vossas mãos, e não sei se o vou buscar de novo

amigo/s o teu abraço ainda aperta o meus


obrigado!
não faz mal
...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Porquê?

Porque não plantas?
Porque não flores?
Porque não árvores onde crescem os amores?
Porque não terra ou pedra?
Porque não lama ou água?
Porque não a nuvem que a carrega?
Porque não o vento que a empurra?
Porque não o céu que o vento percorre indefinidamente?
Porque não o sol que o luz ou a lua que o escura?
Porque não o fogo que tudo acende?
Porque não tudo?
Todo o cheio que há no mundo!
Porque não nada?
O nada que no tudo se esquece.
O nada que em nada aparece e adormece na pressa de esquecer o que existe!
Porque não um homem?
Porque não um homem vivo?
E porquê viver se vida há em tudo o que vivo?

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Poesia doméstica

Sem óculos

Abri o saco da roupa e ouvi uma voz que dizia: pois até não falta assim tanta roupa para arrumar, esta, sei que devia ser 2ª ex namorada, depois ouvia outra voz, aí era a 1ª, era mesmo, dizia: esse monte olimpus de roupa, sem dúvida que era, que vais fazer com isso!? Talvez pela janela... depois outra voz de um amigo me acalmava e falava-me de outras coisas que eu não entendia... estava só, enfim, com os meus heterónimos – dizia – contente... falava comigo e contigo, estou certo que ouviste... depois outro amigo exaltado exigia que eu queimasse a roupa para não a lavar... que problema de luxos... impossível... mas entendido!

Sem óculos os meus olhos desfocam, o café faz cancro e o telemóvel dá azia! Vejo que despertaste sua besta! Comigo?! Claro! Sou conan o homem rã! E vim para reinar!

Uma palavrinha, pois necessito mesmo dela, para os exacerbados do poder! Atentai caros filhos da puta que o dia para vós é apenas parte da noite! Atentai, fachistas de merda! Tiranos instaurados! O esquema viciado! Pequenos chefes... tristes e amargas sombras de um sentido de grupo... hipócritas, sim, levanto a minha voz sem medo, vem cá, vem ao poema e tenta derrotar-me que eu pela lei sou fraco... incide em prosa a tua fúria e sai debaixo da saia da Paula Rêgo, quem és tu afinal? A não ser um monte de papéis sem rosto? Julgas pois que o poder que tens sobre a vida dos outros é superior ao sentido de profissionalismo? Julgais-me com medo? Falai-me na melhor prosa de ficção – a sua, pois nem que eu estude dez anos chegarei ao seu nível exacerbado e surrealista! Bravo! É um caso de estudo meu caro... Quem sois vós? Hipócritas sem mais que... e eu? mentiroso a teu proveito, morra eu se me preocupo com o sentido de justiça para além do que ele me ensina... é frase simples? Dormis descansado? Pois que sim, embalado pelo leito do vale tudo! Um dia, de novo, que me chames mentiroso, seu cobarde, e eu, que me quede inválido pela luz ofuscante do teu poder, e então cessarei as minhas armas perante tão grandiosa verdade; ó meu pequeno chefe...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Postit

Quero a próxima carta pronta amanhã em cima da minha secretária...
Estou completamente diferente...
2.linha 3
3. linha1
4ºparágrafo
sempre com um charme especial ou um gozo particular...

16:30 joão
tirar tarde quinta-feira, tirei 95 euros...
A Maria veio para Montemor era primavera...
17 de Julho de 1978 campanha de decapitações, David, Nova Roma...
desconcertante, tragicamente belo, repulsivo...

user name, password, estudante-22
desligado o furo 6 e ligado o furo 5 da amoreira...
agitado, descansar...

comédia dramática: 4 personagens, 1 livro excitado, 1 puta frustrada com o irs, quer enriquecer, anti-mulher fatal...
espanhol 16, estética...
comer, limpar a casa...
criar, criar! agitado, trabalhar, passear a cadela...

cabo (verde?) _________________ o texto não está justificado, verificar erros, falta de conexão entre as frases. Funcionamento e orgânica.
lembrar-me do que me esqueci, ir às compras...

Telefonar ao afilhado, comprar prenda... ir a casa da avó... comprar 2 pneus, pagar a luz, fazer contas... encomendar pizza e cortar o cabelo... telefonar ao Sol...

Ler: A insustentável leveza do ser... Kundera...

Destruir o significante dos conceitos... entregar os livros na biblioteca...

Dormir das 02:00 às 06:00, prazo 1 de Junho (já passou...)