terça-feira, 15 de maio de 2012


A lenta combustão da manhã…


despertar sobre extintos quartos
numa planície abandonada por deuses e chuvas,
paisagens tombadas sobre o grito que alguém
uivou perante os silêncios erguidos no mar
e em terra cristalizados nos interstícios de sonhos
de extintos dedos sobre velas ainda acordadas.
Há uma canção ardendo a meus pés
e lençóis bailando na ausência de ar
interno, nesses estranhíssimos quartos de vidro…
Transformar a irrealidade em milagre
e o fogo em coisa amada
colora de ondas o braço rudimentar
de uma carícia violenta,
tinge de espasmo a mão fechada
que deslumbra a eternidade
no ínfimo gesto de se manter inalterável.
Dormindo e acordando se restabelecem fôlegos
colhidos em bocas caladas que se beijam
- que se anulam em vectores de línguas -
e em pálpebras branquíssimas
esmagadas por um pecado primeiro
edificado a extremos e cravado a profundidades impossíveis.
Há um quarto onde despertas em chamas
e há as chamas que a mim me despertam…
um mar que se ergue nos lençóis
que traíste …
E há um bilhete no chão, escrito com a tua letra,
e nele um grito sem ar descuidado na pontuação….

Provavelmente será teu o branco incêndio…
…ou talvez a memória dessas impossíveis pálpebras…

3 comentários:

  1. Sem palavras a acrescentar...

    Palavras tais só podiam ser oriundas do grande Nuno Mangas - Viegas.

    Sem me apresentar, aproveito para informar que tive a oportunidade de ler a "Revista Literária Digital D'AEQUUM" e considero um projecto bastante interessante.

    Recebam os meus sinceros Parabéns, aguardarei pelo nº 3.

    Um bem haja...

    Marco Mangas - http://nothingelsegrey.blogspot.pt/

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  2. Caro Marco, da parte do grupo da revista, um grande obrigado. Aqui as palavras do shô Nuno são já uma lufada de letras frescas que nos animam sempre...

    O teu blog está adicionado à nossa lista...

    Aguardamos também com propostas tuas para o nº3...

    Tod@s são bemvind@s

    Bem haja

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  3. extintos quartos de um despertar - nem terços, nem metades -
    um sonho lívido mas desconhecido por todos e todas
    as letras, as vozes, as sombras,
    vocalizações sombrias sobre extintas canções,
    cantos de sala, onde a imperfeição espera, extinta,
    mas sempre de chamas feita.
    serve-me apenas um pires,
    serve-me apenas um copo.

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