quinta-feira, 23 de maio de 2013

A síntese das coisas sintéticas

Escapa-se o objecto sobre uma distorção primeira
A energia original – substancialidade prima –
criou um eco que se escutou a si mesmo
caminho por si e em si caminhado
e para si criado numa condição imanente de esquecimento
Ressoa a constatação:
o encontro das paralelas dá-se no infinito
no infinito, nada sempre visto
convergem as coisas que se nos obrigam
a percorrer essas coisas mesmíssimas.
A dimensão de vitalidade,
halo que por excesso de sobreposição se nega a si mesmo,
constelação que de si para si se ausenta
torna-se-me equidistante, impossibilidade
em recusar a realidade da ilusão
A questão jamais será como fazer o corpo
mas, irremediavelmente, como ser o corpo
A síntese da imaginação – essa real virtualidade –
-tricot cognitivo auto contraditório –
põe-se agora em estado de coisa problematizada
num zero formal unificante e intensificador
da sua negação necessária.
E porque flutua sabe-se corpo
unidade sintética da apreensão
-num “como se” nunca “para se”
que desimpede e desobstrui o instrumento
para que este possa não ser como sempre esperou
Esta antinomia do efeito
- este não que é sim exactamente por sê-lo –
rasga o chão e abre fenda no céu
liberta, finalmente, a passagem para
o híper-orgânico que jamais o será
- excesso de não-si em si mesmo gera o que procura negar
desprendido de alegações verbalistas.



[Nesta torrente problematizadora
nesta guerra que as sensações se fadam em se relacionar e não ser a guerra
expansão predestinada porque inaudita
pouso ovóide a cabeça e adormeço.
Acordarei agora para o que me dizes…]


-Não dizes nada?
então, se me permites...



Constato possibilidades de discriminar viventes
Coisas que vivem, por assim dizer não dizendo
não disse vida, nem órgão nem ser
nada me o ditou
a coisa surgiu de tal forma, que tal forma se me escapou
Há algo de nuclear no êxtase sensorial
de captar existências por elas próprias
extintas de um todo,
desenforcadas de uma cadeia hierarquizada...
e há uma virtude soporífera
em escavar pelo umbigo de cada uma dessas coisas
que se pré-existem a si mesmas
expressões omissas do conceito determinado
Tudo luta por escapar à sua palpabilidade
tudo peleja por e contra o seu útero
por e contra o conceito que busca e de que se furta
compreender essa incompreensão
é meio caminho andado para voltar a reiniciar todo o processo novamente
Ao não estarmos predestinados a tais constatações
estamo-lo infinitamente mais do que se o estivéssemos
E tudo mergulha nesta intensificação da percepção,
da atenção-outra,
neste esquecer-me de mim, vector a vector,
para que ao acordar, possa cair a pique
de volta ao museu…



-É para estas merdas que dizes para vir ter contigo? Enfim.
Vá, hoje faço-te um desconto. Passa pa cá trinta paus?
-Mas percebeste ao menos o que te disse?
-Claro que percebi. Vá, trinta paus para cá... 
que a voz de Nerval também tem de comer.



(Évora, 4/12/2011)
nm-v


6 comentários:

  1. "I'd rather have a bottle in front of me, than a frontal lobotomy"...
    -Como queiras. Agora passa para cá os trinta paus!

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  2. Texto que dedico, com a fervorosidade de aluno, ao enormíssimo Prof. Dr. José Manuel Martins...

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  3. Infinita... circular...
    vi-me a rasca para o ler de uma vez só! mas depois vi-me impelido a ler outras tantas.

    excelente

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  4. "I'd rather have a bottle in front of me, than a frontal lobotomy"...
    -Como queiras. Agora passa para cá os trinta paus!??????????????????????????????????????????

    Fazes o favor de me fazer uma tela toda ela branca cheia destas letras pretas!!

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  5. -Como queiras. Agora passa para cá os trinta paus!

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