quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Na Grécia...

Culpe-me doutor juiz que sou culpado!

Sou inapto à sua sociedade e deverei ser castigado por desejar demasiado, demasiado para o homem que com tão pouco da vida vive...

Mergulho na minha noite intranquilo e sôfrego, e ainda fico sem respirar perante a dor que o sistema provoca, e a minha noite aclara um pouco...

Culpe-me senhor padre que pecarei até morrer!

Culpe-me senhor político que voto em branco!

Culpem-me que sou culpado de desejar demasiado, sou homem para vós desajustado...

Culpem-me por desejar demasiado para o homem que é pobre da sua riqueza... culpem-me se desejo caminhar contra a corrente... é que custa ser obediente... é este desejo de viver a humanidade em pleno que não me abandona...

Culpe-me doutor juiz que sou culpado!

Considere-me louco demasiado para habitar na vossa triste realidade. Despir o casaco de economista e a gravata de político que costumamos usar, prefiro mil vezes enlouquecer em cada segundo da minha vida a vestir tais trapos... Desculpe mas preciso de mais tempo para enlouquecer um pouco mais, ainda as entranhas de onde nasci se esvaem em sangue espesso... mas sei que conseguirei ser um louco, bebo do néctar da demência... Mantenha-se o doutor nessa prisão se é que me percebe... ou então, depois que apodreça e eu consigo de igual, talvez já não se sinta tão inchado e me entenda melhor...

É que a verdade tarda sempre à justiça das coisas... (ecoava)

Verdade papal e sistémica, e moleza das vidas fartas, desalinhado não quer ser soldado, nem tempo tenho para enlouquecer...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

toca-me com os teus dedos a escala em desalinho que sou
se desafinares a culpa não é tua é do tempo que leva a entender-me

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

"demasiado negro para ser verdadeiro"...
cru
e demasiado primitivo para ser falso!

“[fala] diz...” diz quando eu for...
“cansas-te?”
E quem estará do teu lado quando no cansaço o vazio te abraçar?

E como se fosse outra coisa qualquer ainda respiras palavras no meu ombro vermelho!? Rasgas a pele e a noite também... e quem me sustem perante um cansaço maior que ninguém suspeita quando vem.... ó noite maior tu cansas-me!

“descansa [deita-te]”, permaneço deitado numa almofada sem fada até que chegues... e tu que dizes se eu não estiver, nem quando sentido houver,
ri-te ainda mais alto para mim,

“no meio de tanta pessoa” ecoa, ecoa como uma inspiração sôfrega a tua ausência, não voltaste,
e com o tempo
“perdes a essência” e não voltarás...

...“para me confirmar o regresso” crava-me no peito as lâminas da verdade...
...e deixa-me respirar o ar da noite “como se a manhã tivesse caído”...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

[fala] diz...
cansas-te?
descansa [deita-te]
no meio de tanta pessoa
perdes a essência

vá... [fala]
diz... [repete]
cansa-me
deixa-me descansar
vai-me falando baixinho
para me confirmar o regresso
Leste tudo sem coçar a mão primeiro
e há quem não queira nem sequer saber

vai
reconstrói-te
como se a manhã tivesse caído

e /
ficasses/




/ num vazio /


demasiado negro para ser verdadeiro /
isso que queria...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Surgiu a noite, surgiu a lua
surgiu também uma lembrança tua.
Escureceu de repente, e não há barulho
não há surpresas, nem prendas só o embrulho.
Eu, embrulhado de frio. Sem laço.
Sem cobertor ou agasalho.
Sem senãos. Sem te segurar as mãos.
Bocejo mais uma vez antes de me aconchegar
e adormeço sabendo que não existes,
mas um dia vais chegar.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Boa Noite

agora/ que o sono se pendura nas pestanas e anda de baloiço nos meus olhos/ agora/ que as palavras respiram mais devagar e as costas esperguiçam a noite/ agora/ que quero sorrir ao dia de amanhã mas está escuro, ainda, e só as estrelas se acendem pirilampicamente a querer dizer bom dia, mas é noite/ agora/ que tempo será este que não há quente a derreter os sonhos e por momentos congelo todos os momentos/ agora/ é apenas hora de ir...de ir...de ir....mais tarde volto. não //agora//. V

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Serenamente

Sereno. A quietude das searas ficou no sul do meu peito. Rudes os granitos desta terra que me acolhe e me enche os olhos de branco. Sereno. Falta-me o cheiro da terra dourada a dançar no calor do horizonte. Falta-me o que ficou na memória, e já só é isso apenas, memória. Sereno. Porque os meus sorrisos todos juntos lavam-me as lágrimas. Deito-me e deleito-me nas palavras e voo, voo muito alto para além de mim. Regresso ao hoje e…Sereno.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

contaminaçoes

"visto as calças do pijama como se me vestisse de ti" ... e a pele estala com o calor que o frio arrefece. A neve passa a ter uma luz própria e a distância perde-se na geada "um retorno real - dizem-me as paredes" mas a resposta não é única, nem fica por um parágrafo apenas.
amachuquei os papéis que me ditam as horas "e eu já nem nas molas os vejo retidos". pendurei-me no estendal às seis da manhã para ficar em ponto de congelamento real ... e fiquei, gelado, a ver a cama de esguelha ... cheio de pressa de apanhar o sol de vez.
Contaminam-so os caminhos das frases que sobraram dos papéis "colgados", e as palavras cospem-se mutuamente. "oye! te queda mucho?" nao ... ja estou de saída

em itálico - citaçoes - Nuno Cacilhas

joao