terça-feira, 15 de maio de 2012

"as pautas têm tudo menos o mais importante!"

sentado, naquela posição que vem adquirindo, torto mas confortável.
saboreia um gole de café solúvel, diliuído em água e receios.
pousa as folhas no chão, cheias de colcheias e apogiaturas que não entende.
compassos compostos, marcados a três, que lê, um de cada vez.
ligaduras que fazem a prolongação de um mundo para outro, e que acabam num acorde diminuto, difícil de explicar.
assim como todo o seu ser, que choca em todas as tonalidades e segue de cromatismo em cromatismo.
há-de haver um ponto de repouso, uma suspensão , um uníssono, ou uma simples reverberação.
evitar repetir as quintas paralelas, assim como os mesmos erros, ainda que em oitavas diferentes.
o metrónomo da vida marca-lhe um andamento lento, pesado, com acentuação nos tempos fracos.,
mas ainda com escalas por construir e arpejos por desvendar.
e no meio das cordas, perdido nos trastes, vê nas folhas de outros a vida que quer.
folhas que são mais do que músicas, são pedaços de vida, sempre com uma vida nova.

2 comentários:

  1. chuif. lindo. a sério!
    " e heis que o poeta se fode com a vida e desata aos gritos pra toda a gente" (Anónimo)

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  2. Muito bom, compadre. Inteligente e paródico... A introdução deste léxico teórico da música no texto funciona na perfeição... Farias um livro de poemas completo com esta estratégia... "O homem-acorde para ver o nascer da clave de sol..." Abração!

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