domingo, 1 de maio de 2011

encontrei uma pedra no chão

por mais coisas que eu visse nessa pedra, seria sempre uma pedra
e como pedra a encarei



na porta da entrada ficou uma lágrima... o sol tentou condensá-la... eu tentei espalhá-la mas ela ficou manchada no chão.

guardei a visão dessa pedra cá dentro

levei-a comigo. pesam-me os passos e os movimentos por causa dessa visão petrificada que guardo no album da mente



dois de Sol e sete de Chuva. estou tão saturado, estou tão sem cor,


houve um canal de vermelhos que desapareceu, já não tenho RGB, tenho só GB


tentei explicar o que significa essa pedra
a tudo, a todos, a ninguém...
"e ainda hoje achas que ninguém entende que aquilo é uma pedra"

não consigo acreditar que a pedra passou da minha mão para a mão certa
quem sabe não se saiba que aquilo é mesmo só uma pedra?



não. não é normal. não é simples. mas também não é complicado. dói-me tanto... podes tirar-me a venda dos olhos? não suporto mais não ver nada abaixo dos meus pés e ao lado do horizonte.


estou sem cores? não... vejo bem. oiço mais ou menos. Ainda me vejo na porta da entrada, a perguntar-me "para que é que voltas a esta porta? para que fechaste a porta que tanto quiseste fechar - se agora entraste na mesma, e já não a sabes fechar?

tropecei nela, finalmente, e bati com a cabeça no chão
nem por isso esqueci essa pedra feita rocha em minha mente vazia
e em pedra me diluo para me achar mais sólido e firme
para crescer como pedra e fixar-me como rocha



inclino-me contra a parede... fico com a cabeça ligeiramente dependurada... balançando para frente. tento chegar aos teus braços, mas não estou cá.




lancei com uma mão contra o lago, fiquei à espera do barulho da sua queda... parece que já estou assim há tempo

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. devo ter tropeçado num dos poemas mais bem conseguidos do meu amigo João, pois ainda estou congelado por essa imagem onde o som não aparece, a luz esmorece, e a vida fica suspensa... Uma suspensão que vem não só das palavras mas também das imagens que o poema desperta!Do início mais simples ao fim mais complexo, que grande viagem em tão poucas palavras, muito bem estruturado. Gostei muito João!

    Um abraço ao meu amigo João

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  3. Amigo, estou lisonjeado, vermelho, corado, e muito contente. Há momentos em que o som não é necessário, a luz igualmente prescindível, porque a vida fica realmente suspensa, deixando-nos tempo para rolar sobre nós mesmos. ficamos sem cor, sem som, sem luz no olhar, sem braços para aparar a queda no chão ... mas, de certa forma, sempre estivemos assim, até mesmo quando julgamos ter tudo na palma da mão. As palavras são tão traiçoeiras quanto benignas e fieis.

    Como me sabe bem dar de cornos no chão para perceber que cá estou...

    e sou feliz, apesar de tudo...

    um abraço de retorno, desejando apenas poder falar contigo mais vezes...

    sinceros agradecimentos.

    até breve

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