domingo, 30 de outubro de 2011

SoNo

Tenho os pés frios e não me apetece pensar.
Os olhos fecham-se e eu vejo melhor assim.
Escrevo e apago inúmeras vezes. As ideias fogem.
Fico eu e todo o meu ser complicadinho, de barba por fazer.
Fazer fazer, fazia um chá, mas não há essências. Paciência.
Paciência, transparência, sinusite, tenho os pés frios e vou dormir.

á

Há dias que sim, há dias que não.
Há dias que não porque sim!
Há dias que sim, porque não?!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

?(Europa)?

Tenho as canetas secas
de não lhes pôr as tampas

Tenho as gavetas pêrras
por nunca as manter abertas

Tenho os bolsos forrados
porque nunca os rasguei

Vou com os tostões contados
para pagar tudo ao rei.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

todos os dias são dias de aniversário...todos os dias renascemos....todos os dias as palavras são outras, novas, rebentos de ser...a nós que escrevemos aqui e no mundo...todos os dias de todos os dias...Parabéns!!!!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

(Kuster Aragem)

Huelo a lluvia en el limbo al que unos perros verdes con cabezas de delfín y humanidad de elefantes y alas de ángeles estampados contra el empedrado del jardín de granito me han llevado, yo qué coño sé por qué inescrutable privilegio.

El caso es que a mi me duelen los brazos que un dia memorable me crecieron para que pudiese abrazar esa tormenta primigenia de relámpagos y palabras. Os meus parabéns e agradecimentos pelas luzes e a amizade. Aequuns todos ¡Duro con ellos!

Seu choramingas varredor, mesmo fodidamente, caserenho.

PD: 150€ (!??!!!) da caução da praça darmas, e os recibos que descontam mais 150€ (!??!!!) em despesas de àgua, luz e gas foram-me prometidos para esta semana na imobiliária. Apanho-os, ou apanho melhor uma smith&weston? Só digam.

Abrações

[texto de KUSTER ARAGEM - em resposta ao aniversário do AEQUUM]

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sim, festejamos,

festejamos porque é feita de festas a nossa escrita. porque é feita de tormentos a nossa frase última, profeta da próxima e das seguintes. porque é feita de sentimentos turvos e água tépida o calor com que as letras se juntam e as portas se deixam entreabertas.

festejamos porque são dias de festa todos aqueles em que nos tocamos com uma rima, com uma ausência de toque, com uma cor sublinhada, com um negrito elevado ao mar... porque é a cerveja que trocamos que nos exila para uma qualquer estância da existência em singular pluralidade.

porque os filhos da puta serão sempre filhos da puta, mas os gritos serão sempre mais altos.

e porque a indiferença e apatia têm de ser quebradas de alguma forma, e porque temos de começar por algum lado... que o AEQUUM seja o barco de um grito, que a Equidade seja a ponte para a experiência, para a concretização, para o comando das nossas vidas sobre o planeta e os seus dirigentes que nos querem escravos

não somos escravos e por isso festejamos

Temos dois Nunos, Temos um André com seu Rodrigo Antão, em busca da perfeição da métrica e a imperfeição da certeza; Temos um Vicente - exilado de si, rebelde de outro, pai de tanta frase e tanta harmonia em desespero com a dor que acalma os versos da imperfeição; , dois joões/juans sempre à escuta e à coca de algo mais. Temos uma Vanda, progenitora das noites sem ausência, das solidões acompanhadas de ondas e mar e contas de cabeça. Temos um Topê escondido entre as brumas das palavras fragmentadas, irmão da alma, irmão da palavra, cúmplice na desordem. Temos outro Nuno, mais longe e mais perto, esperando a sua vez de gritar connosco. Um Hélder tímido que as pedras que vê rolar pelo chão, as pontapeia num desabafo do fundo da metáfora; Um Ricardo à espera de um mesmo grito. Um Daniel perdido no Norte e encontrado no Mundo.
é na equidade que os produtos finais deixam de o ser e passam a ser mais uma ponte para toda a criação aqui gerada...

Queria, então, fazer uma sugestão urgente a todos este Poetas Cientistas Da Escrita que o AEQUUM aporta... Não desistam... a letra é a fórmula certa para a criação do grito...e o grito é a certeza de que somos os mesmos, mas melhores

E um pedido: muitos de vós já experimentaram colaborar nos projectos mirambulantes do colectivo PEBL e de outros projectos sediados entre Montemor/Évora/Tavira/Mundo... Queria agora pedir a cada um de vocês que escreva um breve texto dedicado, para que este seja explorado musicalmente por um projecto que em breve sairá pela rua... Queria também pedir que fosse cada um de vós a acompanhar a transformação desse texto, e quem lhe desse vida, talvez, um dia, num palco pequeno perto de todos... dúvidas podem pô-las nos comentários... mas duvido que as tenham


obrigado a todos os que têm participado e continuam a participar... o AEQUUM cá estará criando pontes entre as almas, entre os mundos, entras as diferentes concepções da vida e da morte, da água e da terra, da mente e do corpo.

um abraço forte e apertado a tod@s


sábado, 1 de outubro de 2011

Festejamos?


   Combinámos encontrar-nos. Já não era sem tempo, afinal, há um ano que não nos conhecíamos. O local era amplo, civilizado, claro, mas expunha, orgulhoso, pequenos apontamentos naturais ao redor dos quais pontuavam exemplos da naturalidade com que o homem convive com a natureza: alguns papéis, copos plásticos e um ou outro vestígio do que fora uma refeição.
   Claro que não era o melhor dos espaços, mas a criatividade é fodida e quando aliada à obrigação dá-nos o seu pior. Já não há locais para os poetas desde que Valter Hugo Mãe disse que o Herberto Hélder devia estar numa praça para ser adorado. Agora é vê-las, as praças, atulhadas de invenções em honra do bombeiro, do marceneiro, do trolha e até do velho que, quando crianças, nos vendia as câmaras-de-ar com mais furos do que tinha a que lhe levávamos. Mas poetas, nada. Por isso, pensei, talvez não fosse fruto do acaso aquele local que combináramos ser o ponto que nos juntaria. A primeira vez.
   Carregaríamos ao peito um poema nosso. Sim, uma pequena honra ao célebre “ Põe-me um poema no peito para te ter sempre presente” do João Sousa, e através da leitura do poema colocaríamos à prova a nossa intimidade, e saberíamos então se realmente nos conhecemos pelas palavras.
   Quando cheguei já lá estavam dois. Sentei-me, pedi uma cerveja de pressão e não trocámos uma única palavra. Limitámo-nos a lermo-nos mutuamente. De vez em quando os nossos olhos encontravam-se e provavam, com um ligeiro brilho de ironia, que já nos descobríramos. A pouco e pouco foram chegando os outros. Olhavam em redor e talvez pensassem do local o mesmo do que eu, mas logo se sentavam e se abstraiam do envolvente. Nada havia sido combinado previamente, mas nenhum disse uma palavra a não ser as duas ou três que dirigíamos ao empregado pedindo-lhe mais uma bebida. Estivemos horas naquilo: lendo-nos mutuamente e regando o espírito.
   Quando a noite começava a levar de vencido o dia, um de nós levantou-se e juntos vimo-lo desaparecer para lá da sebe que delimitava o espaço. Depois outro, e outro, e outro, e o último a abalar foi um dos dois que já estavam aquando da minha chegada. Parecia um ritual, o cumprir com preceito regras rigorosas que tínhamos imposto a nós mesmos.
   Continuamos a cumprir o único ritual que fazemos questão de respeitar: escrever no AEQUUM. Nunca mais os tornei a ver. Não sei nada deles, apenas conheço as suas palavras; apenas os conheço pelo poema que carregam no peito.