segunda-feira, 9 de abril de 2012

Para além do invisível

Não sei quantas camadas de pele tens, quantas barreiras tens àquilo que te conheço, apenas sei que as dificuldades em ti me são fáceis. Raramente falamos de alguém para além do que conhecemos a partir da sua imagem, da sua pele, e tudo o que dela possamos dizer é efémero, como efémero é o conhecimento que dela temos. Nada nos engana mais do que a imagem que temos de determinada coisa, a não ser que sejamos a própria imagem. Não sei até que ponto é possível sermos nós os sintonizadores da imagem dos outros, nem sequer se alguma vez o chegaremos a ser, mas sei que ultrapassei todas as camadas de pele que te protegem e agora entrei-te. Habito-te um ponto a que mais ninguém ousou chegar, como um daqueles locais ermos e húmidos que as florestas tão bem guardam. Sei de todas as árvores e conheço bem os ramos que lhes crescem, assim como os cheiros molhados que me sufocam o prazer. Não sei quantas camadas de pele tens, quantas barreiras tive de ultrapassar, mas sou quem sonha e vive cada ponto para além do que te conhecem.

sábado, 7 de abril de 2012

Tempos

Não me servem de nada os tempos mortos.
Não falo. Não escrevo. Não vivo.
E, das duas uma, ou não sou eu, ou sou-o no estado mais intimo.
Abandonado de qualquer coerência deambulo entre a calma e a agitação, a angustia e o sossego.
Meu cérebro, cheio de vontade própria, cansa meus olhos, que doridos berram água e sal.
E coordenados como bailarinas, rodopiam em ternário.
Fecham, abrem, e mesmo sem luz alcançam várias cores, cores vivas.
Rendido à sua presença partilho a almofada com a insónia.
E permaneço ali, preso, mas um ser irrequieto e contemplador de um cenário negro com riscos de vivas cores.