eu não tinha outro remédio.
deduzo que a porta me leve para outra divisão
divido-me na escolha de uma caminho
localizo a fonte da minha incerteza e espero, espero
espero e desespero mas nunca estou sozinho.
dou o passo, após pegar na maçaneta lentamente
e espreito a divisão que me espera.
tudo tão bem calculado
um exemplar corredor onde pedaços de parede pingam
trilham-me a passagem, deixam-me sem remédio
eu não tenho outra maneira de passar.
deduzo que esteja na altura de assumir um problema
mesmo que não seja meu, mesmo que nunca chegue a saber qual é -
qual era. desespero. mas não sou eu, é o nome.
eu não tinha outra maneira de resolver o problema
sem assumir o problema, descobrir o remédio.
no fundo de um corredor existem umas escadas
cada degrau é espelhado. cada espelho espera um passo meu
descendente, pausado. eu sigo caminho
e leio em cada espelho uma expressão facial,
um cruzar de pés, um rasgão nas calças,
um sentimento de perda, um problema.
distraio-me por momentos e tento chegar à porta
uma outra porta, rente ao fim das escadas.
na porta há uma pequena cruz vermelha
parecia uma caixa de primeiros socorros
mas não tinha remédio.
seria a última divisão
espero, abro a porta
espero, cada espelho espera também
nas minhas costas
espero, deduzo que a porta me leve para nenhuma divisão.
eu não tinha outro remédio.