...não me olhes assim que não me vês, antes come o meu interior!...
...come o meu fígado estufado e o coração guisado!... come também os pulmões com salada de agriões!... come tudo!... faz linguiças com as tripas!... raspa bem toda a massa visceral e não tenhas pudor... tempera com pimentão a gosto, não te levarei a mal... come-me com os dedos, com a boca e os dentes!... estilhaça-me a carne encarnada e não deixes nada!... leva tudo, esmaga tudo!... tritura tudo em matéria viscosa, oleosa... faz hamburguers, almôndegas, sei lá!... vende-me por vaca ou porco, é igual... dá-me como comida aos cães se me faltar sal!... e deixa-me a carne apodrecer se ainda não me conseguires ver, tanto faz... que a comam os bichos então!... que os vermes façam dela o seu festim celestial! o seu banquete orgiástico!...
porque para além de poesia experimental também existem experiências poéticas ... todas as actividades de escrita estão em igual alcance do homem como ele deveria estar com a natureza ... aequum : equidade, imparcialidade, igualdade
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
sábado, 7 de janeiro de 2012
“corpos, meros vasos”
...é na poesia que esquartejo o meu corpo, dedo por dedo, perna por perna, braço por braço... depois todo o interior visceral até nada mais restar do meu corpo... até ao mero receptáculo vazio... destruo órgão por órgão na atitude mais contemplativa do belo... esvazio tudo em mim para que do nada renasça parte de mim outra vez, e destruo-me ainda com mais certezas... com o maior fulgor das bestas esmago cada pedaço do que sou à poça de sangue no chão de pedra... A pedra quente do sangue na noite fria de um adeus... ainda quente do sol que a aquecia... a pedra fria na noite gélida tremia o corpo... o corpo vazio morria a cada por do sol e eu, sem sangue nas veias a correr, preso ao corpo oco, já nem sentia; nada sentia de meu... e não sei como, mas a pedra aquecia o corpo vazio de mim... a pedra guardava ainda o calor do meu sangue... os corpos, vasos que guardam as noites e os dias... receptáculos da ilusão... marmitas do tempo... desapareceram, transformaram-se em pedra... mas pedra quente de sangue! Pedra quente do sangue derramado... pedra quente de mim...
o caminho era feito de pedra. consigo lembrar-me do cheiro da pedra em contacto com a chuva que nela bate vinda do céu. gostava de me lembrar do teu cheiro daqui por 4 anos, mas preciso desse tempo para me esquecer do cheiro. as rochas não tinham lugar onde a pedra do caminho trilhava os corpos. e os corpos eram meros vasos onde a pedra depositava o suor e a humidade dos séculos de caminho vão. queria tanto saber onde encontrar a luz dos teus olhos para secar a chuva nesta pedra, mas preciso dos olhos para não cair em falso.
entering the sistem já não vejo onde dar mais um passo, e não sei onde pousar o pé esquerdo failed parece-me que ainda sei como chegar a pé a tua casa. as pedras redondas e mal dispostas na calçada - prenúncio de um castelo de sonhos please press the reset button for five seconds o caminho ainda é feito de pedra. e eu consigo ainda lembrar-me do cheiro, e ainda sei como olhava para ambos os lados às duas da manhã com a rua deserta then press the on button and click DEL before entering the sistem again
volta de lá. mas fica por aqui.
entering the sistem já não vejo onde dar mais um passo, e não sei onde pousar o pé esquerdo failed parece-me que ainda sei como chegar a pé a tua casa. as pedras redondas e mal dispostas na calçada - prenúncio de um castelo de sonhos please press the reset button for five seconds o caminho ainda é feito de pedra. e eu consigo ainda lembrar-me do cheiro, e ainda sei como olhava para ambos os lados às duas da manhã com a rua deserta then press the on button and click DEL before entering the sistem again
volta de lá. mas fica por aqui.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
... uma pedra no meu caminho, nela me quedei... matéria bruta mas cedosamente lisa como mármore... por ela deixei meu corpo escorregar... numa descida vertiginosa, não, talvez numa subida sem gravidade... o que interessam as direcções?... na velocidade quase imparável do movimento último, na eminência atroz do cair do véu – o rosto sem rosto, carne do mundo-, eu acordo; ou o mundo gira e volto a ter gravidade, a gravidade da pedra... Mas ainda o meu sol aquece o frio do mármore!... sim, e na pedra quente derrete-se a carne e falam as almas... Há homens que recorrem ao último suspiro para falar da sua verdade... eu não, a pedra lisa, misteriosa e bela parava o meu tempo... o tempo sem tempo parado no movimento em que o meu corpo perdido na pedra estava... no seu espaço, sem coordenadas possíveis... sem opção no mundo das opções!... perdido, não à procura mas loucamente perdido... posso não ter razão, nem sequer fazer sentido... nem interessa... a pedra arrefece sempre que o sol se põe, e o meu corpo volta a deslizar por sobre a superfície da pedra lisa, gélida, e toda a carne desimpedida permite agora que a pedra faça a sua viagem: os ossos quebram-se lentamente, os tendões paralisam, os músculos rebentam numa explosão sanguinária, as veias soltas tingem de vermelho o mármore e retribuem-lhe o calor, e o calor perdido regressa à pedra... e desfeito sobre a pedra, o meu corpo renasce a cada nascer do sol...
Subscrever:
Mensagens (Atom)