sábado, 7 de janeiro de 2012

“corpos, meros vasos”

...é na poesia que esquartejo o meu corpo, dedo por dedo, perna por perna, braço por braço... depois todo o interior visceral até nada mais restar do meu corpo... até ao mero receptáculo vazio... destruo órgão por órgão na atitude mais contemplativa do belo... esvazio tudo em mim para que do nada renasça parte de mim outra vez, e destruo-me ainda com mais certezas... com o maior fulgor das bestas esmago cada pedaço do que sou à poça de sangue no chão de pedra... A pedra quente do sangue na noite fria de um adeus... ainda quente do sol que a aquecia... a pedra fria na noite gélida tremia o corpo... o corpo vazio morria a cada por do sol e eu, sem sangue nas veias a correr, preso ao corpo oco, já nem sentia; nada sentia de meu... e não sei como, mas a pedra aquecia o corpo vazio de mim... a pedra guardava ainda o calor do meu sangue... os corpos, vasos que guardam as noites e os dias... receptáculos da ilusão... marmitas do tempo... desapareceram, transformaram-se em pedra... mas pedra quente de sangue! Pedra quente do sangue derramado... pedra quente de mim...

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