sábado, 27 de abril de 2013

não-poema

matamos o Pai que se diz poeta e fodemos a Mãe que se diz poesia!: eis um poema edipiano!! a tua teta descia pela chaminé e eu chupava peles, nervos, sangue, gorduras... enchia-se a sala de carnes jorradas de cima e chupávamos todos o leite, a água, o vinho, o mijo, o suco... Habemos Petisco! Irrita-me a poesia, irrita-me a tua tia, irritam-me todas as palavras acabadas em –ia... Irrita-me o Pingo-doce!! Fode-te Pingo-doce! mais as tuas melodias... Desculpa Pingo-doce. Basta! Chega de poesia! Venha o Pingo-doce! Não é por mal querida, mas o teu capricho existencial fode-me o juízo. Tu sabes quanta carne tens que seduzir, esquartejar, amar, esventrar, foder, comer, tu sabes quanto de mim tens que matar para que te oiçam cantar em êxtases divinos... mas, Puta, eu não vim aqui para morrer!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

poema de comboio #14

[um feliz dia dos (es)cravos]


completo a folha com a vida



se está grávida, não fume
os dias têm já neblina de mais
vou ser optimista agora
demasiado. foi demasiado
toca a música assim,
baixa o volume do baixo
quando voas tens a sensação de liberdade?
não te preocupes. já passa
eu nunca aprendi a andar de bicicleta
a amália nunca me preencheu a alma
a mesa nunca me esteve vazia
não completamente
eco pistas usadas por centenas por dia
o campo é a saída para os inadaptados? fecha o jornal
e escuta a telefonia
a cacofonia
a esquizofonia
a telefobia
a cocafobia
a telefonia sem pilhas
a telefonia


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Janelas-corpo ou a mentira


Janelas ardendo nas testas perfumadas
orquídeas e outras visões de mulheres
seios frios chamando luas
portais vertendo desejos
nas paredes que são rosas para os amantes,
copos rolando rua abaixo
procurando lábios ou seios ponteagudos,
As portas são folhas que são portas
onde mulheres envelhecidas
retocam maquilhagens para o adeus,
As fotografias são a realidade mentida
os candeeiros estão apagados
e não há lábios para beijar o fumo rápido
da noite,
não há seios erectos para abrir as portas
os frios perfumes das portas
que são as amantes da rua,
frias as folhas que são mulheres
penduradas nas paredes
desenhando, invertidas, as paixões,
Nos teus seios, vejo ardendo os lábios
e os copos, que são portais para a lua
Na calçada cai a janela ardida
ardido o torneado corpo da mulher.
 
Esqueço porque recordo
Recordo, porque existes na mentira de ti...


(25/01/2013)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

a mesma música (C F G)

Vou usar os acordes mais simples
para dizer outra vez as mesmas coisas
Vou repetir as mesmas palavras
Porque por si só não dizem tudo

E porque ditas no teus olhos tornam-se lágrimas
E porque choradas p'los teus olhos formas as águas
Águas que correm junto à luz do Sol
dos mesmos olhos que apagam a lua.

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tempos de cantoria e música em Cáceres
momentos de clausura, saudade e composição
abraços a esse tempo e gente que cá está comigo agora e sempre

quarta-feira, 10 de abril de 2013

estas é que são o egipto

comem nas palmas da mão.
o passe social não é valido a partir de abril.
o trânsito permanece interdito

crianças educam crianças
e a contradição da regra é não poder andar

a evolução será não ler frases em vermelho
amiúde, os miúdos serão novos mapas astrais
do fututo. a couve voltará à terra.
gradeamento, grades brancas, apontamentos de um swing.
falta o ano?

Desvio ao acesso localizado.
De súbito, a contra-natura na vida
que nos emprestam os deuses
(esses filhos de uma grande deusa)
são nuvens que pedem um
copo de tinto
as nuvens pediram
para fumar um charro de erva

o índice pluviométrico mestrado pelas horas de pontal
prevê sangue caindo do céu. Celebremos a indisciplina
arranquemos dentes e falemos da vida dos raquíticos
dos mal-operados.

E porque não uma entrada de emergência?
Serás temivelmente o agora. o momento exacto, a
turbulência, buracos no alcatrão.
Experimenta fotografar a fábrica de perfil
e pede-lhe que sorria. A verdura está fora,
não aparece para o enquadramento da meia noite.
Já nem a água tem direito à opinião pública?

Somos meros pássaros. dentirrostros assustados
c/o folhear das horas de ponta.
Aponta... não esqueças de apontar os minutos também
chega cedo o sol e tarde para o exame.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Porta, a porta.


Tens uma porta?
Aquele fim que do outro lado é um começo, e o dentro e fora são apenas dois lados do mesmo objecto, que os separa?
Tens aquele som estridente de campainha, ou o do cuco, ou até do melro...?
Tens o chiar da porta? A tua porta chia?
Não tens uma porta?
Não tens um paradoxo que te separa da vida, da vida das outras pessoas, e que dele precisas para que a vida, a tua vida seja vida junto dessas pessoas?
É uma questão de atravessares. Estás ver?
As portas, assim como as passadeiras, sejam as vermelhas ou as outras listadas, com menos charme, atravessam-se.
Tens que ter uma! Onde for que queiras ir, tens que passar por uma, e se não fores também terás que passar por ou outra, e pode ser por isso que não vais, ou não queres ir.
Tens uma porta? Não te importa?!
Não tens o algo que tu não abres quando sabes que não é o carteiro, e muito menos abres quando é o contador da luz?
Como deixas passar a visita que esperas há muito, e a outra completamente inesperada que te trouxe uma prenda, mas que não cabe na porta?
Sinto muito.
O que fechas tu quando não queres deixar fugir aquela luz que é só tua, e o som dos teus versos inacabados, e o fumo do cigarro que não fumas, mas tens por companhia?
Queres uma porta?