- Sou um corpo parado olhando, absorto, o deserto! dizia ele
eu não dizia nada. Ainda nada me rebentava nas mãos.
Era meio-dia. O sol queimava nos cabelos uma chama nova.
Caiam gotas gordas e frias sobre as costas ardendo,
caiam como caem os corpos de Homens maduros
violentamente...
corpos intactos e maduros de Homens caindo de algumas árvores.
era meio-dia.
Entravam rápidas nas costas,
acendiam por dentro os esconderijos, rebentavam
a sua luz nas hortas menos propensas.
Ele estava parado, absorto
partindo em pequenas porções para dentro das coisas do deserto.
- Sou um corpo parado, loucamente parado. dizia.
As coisas caiam-lhe nas costas vermelhas
entravam, como Homens maduros, violentos
caindo das árvores para dentro das costas. parecia doer.
Eu não dizia nada. e já nas mãos
cresciam sistemas, coisas do deserto complicando-se.
Entravam muito frias. ardia. fazia rir.
- Sou um corpo loucamente parado, complicando o deserto. dizia.
corpos inteiros caindo de árvores inteiras
duros por fora, com casca, caindo...
entrando, rebentando nos esconderijos a sua luz prometida,
iluminando as costas. uma chama nova.
Eu não dizia nada. e já tudo saia de mim, violentamente
contra as coisas do deserto. era meio-dia.
- Sou um corpo complicado, loucamente parado. Sou o deserto! dizia ele.
o deserto nada dizia.
(Nuno M.-V. Tavira: Jan/2014)
(mísera homenagem ao mestre que não podemos ter porque "juizinho é que preciso" e porque os legumes são alimentos ricos em nutrientes para o nosso corpo crescer forte e saudável, e não são coisas que crescem e rebentam por dentro das pedras translúcidas que nos caem das asas para dentro da nuca. Os pimentos não podem ser o teu xamã, não têm luz... dizem.)
ResponderEliminarOutro meio-dia, o mesmo...
ResponderEliminar...E as cebolas que nos fazem rir loucamente com seu ácido ardente e tresloucado.
O deserto ainda lá está: sereno, observando os homens maduros, esquartejados, perfurados, mas intactos...
Novamente meio-dia, o mesmo...
As árvores, o deserto, o silêncio, a violência, a dor...
Meio-dia.
(Compadre, foi o comentário mais contextualizado que consegui, embora só tu detenhas o significado de tais palavras, já sabes que não vou muito com legumes).
Forte abração!!!
Marco Aurélio Mangas
«O desenho a fogo: os dedos e o sopro.
ResponderEliminarAs pedras soltas suscitam algo,
uma textura sem segredo, aberta.
Como se não procurasse olho: sempre o deserto?
O corpo e essa onda, essa pedra – é uma linha
e o tumulto dos músculos no mar
eis o desejo da perda e do encontro
contra a parede, contra esta página
este deserto – o mar.»
arr, as marcas no deserto
...
lindo companheiro,
absolutamente genial