sexta-feira, 14 de março de 2014

Sem poesia...



Sem poesia...
As pedras de calçada soltam-se
deixando a terra despida e néscia,
Suas sombras aprisionadas
revoltam-se perante tal facto.
Os corpos embebidos em álcool,
Gélidos, inertes, arrojados
em seduzir a terra (sem rumo),
Num grito desesperante e vertical
em busca do seu vício.

Sem poesia...
As pedras de calçada reclamam 
o silêncio,
O vazio















A folha de papel é apenas uma folha
pálida, invisível,
paradoxal a sua existência,
sua criação (sem rumo)
sem nexo, sem vício,
Sem poesia...


Marco Mangas @ 14 de Março de 2014

2 comentários:

  1. Ora, uma vez que há algum tempo não via algo teu por estas bandas e, tentando regressar ao espírito crítico que por vezes este "blog" assume, proponho-me a dizer meia dúzia de coisas, certamente insignificantes, sobre este teu trabalho que me chamou logo à atenção. Chamou-me à atenção, em primeiro lugar, e como parece ser o objecitvo, dois elementos estéticos imediatos: a fotografia (da forma que nos é imposta e vendo o título que a encima, parece nem precisar de palavras para passar uma mensagem...), o texto que a segue e, agora sim o segundo elemento estético, o vazio...

    Tenho reparado como a mancha gráfica tem extrema importância nas coisas que publicas aqui no blogue e revejo-me um bocado nos trabalhos visuais que todos, de alguma forma, experimentamos enquanto "poetas". Resulta sempre esta mimese visual através da organização dos versos e das estrofes. Parabéns pelo "conseguimento" como diria a outra...criatura...

    Voltando à foto:
    Nota como entre as pedras da calçada há vida... linhas verdes de algo que insiste em crescer num piso destinado a ver passar pés e mais pés todos os dias... matando a hipótese de florescimento de qualquer planta. Repara como, tirando as pedras e deixando esse oco, essas linhas verdes desaparecem. Não deixa de ser irónico como são tiradas do chão sem poesia, mas como matam a única vida que existe na imagem... esse musgo que está ali resisitndo ao cárcere de pedra e que parece ser a única fonte de poesia desta imagem. As pedras foram colocadas sobre a terra, tornando-a "despida e néscia"... Mas criando um desenho no chão que pisamos que, em sendo destruído, parece ficar igualmente "despido e néscio".

    Remato dizendo que a folha de papel é, analisando de forma puramente romântica, o resulto desse musgo que, parece, passar despercebido na imagem.

    ...

    Em suma... gostei e gosto sempre que se tentam incluir elementos visuais, como te apraz fazer... Confesso que é, de longe, a publicação da tua autoria que mais me deu que pensar... pela simplicidade complexa da fotografia simples... pela tua análise que me permitiu contestar com outra análise.
    É, no fundo, este o propósito que encontro neste blog.


    Abraços caro Marco

    sejam bem vindas as ausências de poesia de onde ela mesma nasce.

    Abraço

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  2. Camarada João,

    É com enorme gosto que leio a tua apreciação ou, como lhe designaste, meia dúzia de coisas... (poderiam ser duas dúzias, três dúzias, centenas de dúzias!!!)

    Procuro quase sempre encruzilhar a forma estética, visual e literária.

    A forma estética, substitui muitas vezes as pontuações e procura transmitir a forma de estar do escritor ou dar ênfase ao que se pretende transmitir, assemelhando-se à música quando expressa em pentagrama.

    O visual… outra poesia… podemos assim dizer, acaba por ser natural e espontânea, não é nada mais que o relato da captação visionária de um ou vários instantes.

    Quanto ao corpo em si, não tenho justificação plausível, limito-me a viver e a enlouquecer a cada dia que passa…

    A tua análise está bastante válida, mencionaste alguns pontos que foram por mim propositados: o musgo como fonte de vida, cor e esperança (origem, geração); o chão que pisamos todos os dias, que nos pertence e pertencerá, enquanto criaturas e mais tarde cadáveres (a importância da sua sustentabilidade e existência) – tal como o papel e seus versos, sua poesia…

    Enfim… Um outro mar de elementos presentes que poderia aqui mencionar…

    Venham mais contestações que serão (sempre) bem recebidas.

    Grande abraço

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