terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Tu" ou "O poema a vermelho"

A rua é onde despejas esses teus sentimentos
Mórbidos, o teu dia-a-dia presunçoso,
Os acontecimentos vários, que permanentemente te prendem
A essa ilusória realidade triste dos mortos.

A casa é onde teimas em permanecer sentado
Nessa poltrona cheia de pó e de recordações vazias
Que não te mostram
Nem te fazem vislumbrar
Aquilo que foste, nem o que serás.

É triste, isso sim - o viver-pensante deixar de querer existir.
Quando dá aos outros a possibilidade de escolherem por ele.
Quando se resigna perante o seu próprio semblante ressabiado com a realidade.
Quando julga que vê aquilo que quer olhar.
Quando deixas de ser tu, para passares a ser só mais um outro.

Tenho um armário cheio de canetas secas.
Mas esta, moribunda e só, é a que escreve.
Pena é que seja em vermelho.

Rodrigo Antão [03 10 2010]

1 comentário:

  1. livre de emoções arrasta-se pela rua
    com plena vida, nas noites de sempre, sem vaidade
    nada acontece de novo, é assim que se passa nos sonhos

    de pé, enconstada à parede,
    como se de uma personagem de vergílio ferreira se tratasse
    com demasiadas memórias, sem se lembrar de alguma
    sem ser nada, com esperança para tudo

    que alegria irónica, ter a certeza de absolutamente nada
    quando há tanto passo marcado na areia
    quando há tanta merda deixada para trás
    quando pensa, e vê, o por do sol sem cor alguma
    quando passa a ser tudo aquilo que não queria

    temos um blogue cheio de letras vazias
    desformatadas

    mas são só estas que temos para dar

    ResponderEliminar