sexta-feira, 19 de novembro de 2010

em pleno Desacordo... desatei as amarras, não as de todos os barcos do cais mas as do próprio mar; agora, agitado por uma inquietação imprecisa e perto, demasiado perto para não ser atingido pela sua vastidão carinhosamente avassaladora, sou então dominado nessa titânica agitação dos mares, nessa agitação enfurecida por nenhuma razão e por todas, é preciso imaginar a agitação sensível, sentir ao extremo as vagas enormes e impiodosamente escuras que impelem o corpo a um desmaio demorado e sonolento em efémeras viagens vertiginosas com movimentos ascendentes e descendentes, como que congelam o tempo,surgem novas vagas, enormes e extremamente claras quando rasgadas por vários trovões que estremecem por dentro das nuvens exaustas de água, cem tons de cinzento emergem e pintam os céus num esbatimento suave e ofuscante, quero descansar e não consigo, tenho de esbracejar para me manter à tona, quero, em trémulos, fugazes e verdadeiros momentos parar de esbracejar, mas algo desperta e o mar acalma, como que premiando o concorrente survivor, como que estendendo-me o manto mais esplêndido de acalmaria jamais estendido a alguém... agora descanso, não por pensar que o mar não mais se agitará mas, por saber que agora, a tormenta também me temerá!

2 comentários:

  1. é incrivel... quando li pareceu-me um primeiro capítulo de um romance neo-qq coisa, de algum de uma subjectividade inteligente extrema, de um romance quebra-cabeças daqueles que ficam na mesa de cabeceira a cuidar dos nossos pesadelos... se se agitassem todos os mares...daí vira um longo percurso transformado em livro.

    um abraço

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  2. muito obrigado amigo João, veremos a nossa força agitada pelos mares quando nos sobreerguermos não à tempestade mas com ela mesma. Incorporarmos o sabor do mar num poema só para que alguém o sinta presente. Abração amigo.

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