segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

pOEMAvIDA @2


olhava no chão sem o saber
cismava a teimosia da força
desafiando toda a gravidade de um gesto
contra o peso.

pesado, encontrou a motivação
alienando o resto, unindo tudo à sua volta, de vez
com as mãos segurava o Mundo
com o Sol brilhava os pés

e, sem temer o movimento,
desconhecendo todas as regras da física
explodiu com o avançar no chão da sala onde antes rastejava

daí surtiu-se o chuto
a força para afastar e mover o intento
e aliou a vontade à capacidade de se mexer

olhava o chão
agora passando mais rápido pelo canto dos olhos
sem saber que um dia ainda o veria passar mais rápido.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

um dia o hélder ia começar um poema assim

Posso ter os meus dias de lareira brilhante


(verso encontrado nos rascunhos do blogue, desculpa hélder teve de ser)

pOEMAvIDA @ 1


nasceu o conceito do nascimento;
o fogo cresceu para o mar,
em jeito de conflito titânico,
e as achas juntaram-se às centelhas
e a luz tornou-se constante.
a vida – no processo do nascimento.
o nascimento – feito explosão da luz rasgada
da letra desenhada na areia do que viria a ser praia;
sem querer – tornando-se ser – foi o brilho dos olhos que
em primeiro lugar surgiu – e a palavra tornou-se complexa
conforme as emoções desenhavam a actual geografia
de serras e ciclos de água torrentes. a Terra –
as achas do momento acharam-se
no Mundo, eterno e flácido
estavas lá quando tudo se tornou nada
ou apenas saíste do nada para te tornares a metáfora
do nascimento e do apagar da escuridão?
?
da interrogação fez-se o poema.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

inveterados

em 88, quando a chuva era quente, matei-te e não te queixaste, e o mundo era só harmonia
as etiquetas das camisolas e camisetas faziam-te comichão nas costas, hoje não existem ou são apenas pedaços sintéticos de algodão nostálgico que não provoca a comichão do passado

em 87, ainda não te tinha matado, e o mundo estava na mesma em harmonia. o muro de berlim estava à espera da tua morte, e o roger waters à espera da sua queda.
os locais presentes no passado da tua memória, catapultam-se o que torto se endireita, e as balas batem contra a boca que tenta berrar o que não deve ser pronunciado, matei-te e não te preocupaste com nada, nem eu

em 86, as opções seriam bem mais reduzidas, o michael jackson já estava mais que preparado para partilhar com o mundo uma lição que já o isaltino nos ensinou - eu tentei não ser mais preto mas podia ser só uma doença de pele - anyway, eu fiz videoclips de apoio aos que ainda são pretos e com orgulho, e aos animais

em 85, o ano era demasiado redondo para me lembrar de nós, e o sol não gostava muito da rússia. estavas loira e o tempo não focava bem os contrastes das sobrancelhas negras.

o local do nosso encontro é o mesmo, e não razão para guardar rancor. eu matei-te e ainda respiras à espera que te mate em 84

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

irrita-me a sonolência dos dias, o mau estar e a incerteza... irrita-me o pensamento ligado por cerca de 20horas num dia de 24h e o voltar da sonolências dias mas pela noite
irrita-me a agenda e o pensamento humano, irritam-me as contextualizações e conservadorismos fascistas da estética e da hierarquia da composição textual
irritam-me as dores e o não saber porque é que as coisas se degradam com o tempo e se tornam irreversíveis... irrita-me perder luz quando a sonolência dos dias se revela escura