A
lenta combustão da manhã…
despertar sobre
extintos quartos
numa planície
abandonada por deuses e chuvas,
paisagens tombadas
sobre o grito que alguém
uivou perante os
silêncios erguidos no mar
e em terra
cristalizados nos interstícios de sonhos
de extintos dedos sobre velas ainda acordadas.
Há uma canção ardendo
a meus pés
e lençóis bailando na
ausência de ar
interno, nesses
estranhíssimos quartos de vidro…
Transformar a
irrealidade em milagre
e o fogo em coisa
amada
colora de ondas o
braço rudimentar
de uma carícia violenta,
tinge de espasmo a
mão fechada
que deslumbra a
eternidade
no ínfimo gesto de se
manter inalterável.
Dormindo e acordando
se restabelecem fôlegos
colhidos em bocas
caladas que se beijam
- que se anulam em
vectores de línguas -
e em pálpebras
branquíssimas
esmagadas por um
pecado primeiro
edificado a extremos
e cravado a profundidades impossíveis.
Há um quarto onde
despertas em chamas
e há as chamas que a
mim me despertam…
um mar que se ergue
nos lençóis
que traíste …
E há um bilhete no
chão, escrito com a tua letra,
e nele um grito sem
ar descuidado na pontuação….
Provavelmente será
teu o branco incêndio…
…ou talvez a memória
dessas impossíveis pálpebras…