porque para além de poesia experimental também existem experiências poéticas ... todas as actividades de escrita estão em igual alcance do homem como ele deveria estar com a natureza ... aequum : equidade, imparcialidade, igualdade
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
dias
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Fugi do quartel perto das 22h e 30m e fui de lambreta até ao pedaço de mato onde o tinham enterrado.
tirei de dentro da terra... roubei-o do seu regresso à raiz humana... e fiz-lhe um funeral como deve ser.
ofereci diversas bebidas ao defundo, sujo de terra, limpei-lhe os beiços e deitei-o sobre um caixao improvisado, de pedras, musgo, troncos e folhas secas.
Da vontade extrema de fumar veio-me um rito fúnebro intenso... Puxei fogo ao caixao e juntei os cinco elementos da existência na queimada que o fez passar da terra para o ar.
Nunca pensei fazê-lo antes... mas fiz
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
"soneto libertado" ou "fim do mundo, onde a terra começa"
e dei com uma porta trancada
e não há quem saiba o que é uma chave por aqui
cheguei tarde ao pico do mundo
cheguei tarde e sinto o peso do atraso todos os dias
talvez aqui estivesse a chave se fosse mais cedo
e a luz da lua não me ofuscasse contra o chão
talvez se chegasse mais cedo
e há tanto que eu queria conhecer neste fim da terra
há tanta solidão dentro da saudade de voltar ao princípio da vida
é um impulso abraçador da morte que nos faz querer viver
e vejo o teu cabelo, os restos espalhados no chão
há quase uma forma desenhada de seu resto e fusão com a nova imagem de ti
tiro a fotografia cá dentro, dos cabelos faço chave, entro e fico-me no topo
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
pedra
todo o sentido
os sentidos tornam-se frios
porque a dor a sério nao se deixa explicar
sinto-me a cair
e desço
escada fora
sem olhar para trás
tenho tanta coisa feia prestes a sair da minha boca
e o frio que eu sinto faz-me tremer a vontade
o mundo, subitamente, torna-se um peso que eu nao preciso de ter... que eu nao quero ter
mas estou aqui
e até agora estava quase bem aqui
e até agora, depois de abrir as defesas, estava quase muito bem aqui
e agora?
hoje nao tenho esperança
nem a desejo ter - desejo encontrar a droga que me páre o tempo... renunciar à vida por duas semanas e acordar com tudo resolvido ... distante como o mar, sozinho como o tempo
amanha
sempre um amanha
e eu nao estou preocupado com o amanha
sinto-me despido de mim - perdi a chave da minha prórpria arrogância de mim para mim -
incapaz de voltar a fechar as janelas
incapaz de acreditar no que quer que seja
derramo uma lágrima, derramo muitas
com a esperança de que o quarto se inunde, e eu fique tao longe da terra e dos homens da terra, para que eu seja só chuva e chova a um parapeito de outra janela
sinto que vou voltar em breve
mas estou aqui
e se nao há tempo para ter esperança
resta-me só a desilusao.
acabo de acordar e sair de casa
está frio, continua a fazer frio quando nao estás
bom dia
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
sol, castelo, paisagem e isto
Hoje escrevo porque acordei com uma mensagem tão simples como tantas outras, mas tão importante e profunda como a distância que ela percorreu. Trouxe recordações, porque há muitas recordações, muitos momentos, muita estupidez, muito mau feitio, muita paciência, muita falta dela também e muitas histórias.
Já não há pizzas vegetarianas nem "lhas", e também já não há Trilho ou Talan. Também já não há muitas pessoas, e até havia. E, sabes, até dessas eu tenho algo parecido com saudades, tenho-o daquele e do outro, da outra e daquela. Sei lá... andavam sempre por lá... eram importantes... Aquele que só me fala de quando em vez ontem vi-o e, nem o sorriso sacana lhe disfarçou o ar envergonhado quando disse: - "Boa noite". Parvo. E o outro também ontem "falou" comigo. Lembrou-se de me convidar para o jantar dele, e trocou comigo 4 mensagens, uma por cada mês em que não me disse nada. Parvo.
Sabes, aqui está tudo diferente, mas eu sinto-me tão na mesma! Saudades? Nostalgia? Vontade de mais? Sim, isso tudo e mais um par de mamas!
Tenho saudades tuas, cabrão!
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
el poema despierta
domingo, 16 de janeiro de 2011
a noite...outra...noite
Perdem-se horas e a respiração é ao ritmo das estrelas.
Brisa azul escura, universo iluminado do outro lado do tempo.
Olho para lá da estrada de pó, projecto luz, o mar ruge e bate palmas.
A noite é o exílio da estória.
Perde-se o corpo e dançam os pés sem ritmo, sem cadência.
Brisa a clarear no fogo bailarino aos saltos no horizonte.
Olho para lá de mim, universo de vidas na busca eterna de ser.
A noite sou eu até amanhecer.
Cáceres. 9 de Janeiro
V
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
só?
o cinzeiro está, vazio, no mesmo sitio
há o teu cheiro
há uma garrafa de plástico com a mesma água que tinha antes
deito-me, bebido, e sinto-te cá
vou desligar o candeeiro, a tomada incomoda-me as costas
boa noite
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
esta noite...aquela noite..outra qualquer noite
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
mais mar, mais tempo
voltará tudo ao que poderia ser
e o espaço vai fundir-se de vez com o tempo
os ponteiros do relógio passarão a estar coordenados para sempre
...um dia
voltarás de noite, para aquecer o vento frio
para secar a chuva dos meus olhos com a chuva dos teus
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
tempo, Tempo, TEMPO, T E M P O / M A R , MAR, Mar, mar
Por muito que se quisesse apartá-los...
piam de um lado, chovem do outro
não há quem consiga ficar imune à doença do desencontro
...não deixavam afastar-se [...]
"Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água(...)"(Nuno Judíce, in "Pedro, Lembrando Inês".)
[...] chocavam contra a tempestade, contra a chuva.
(chove quando não estás ... O Sol tem medo da tua ausência)
São prenúncios de que é impossível desligar esta ficha. Nem milímetros, nem metros, nem quilómetros. Não há coisa idêntica. Os pássaros continuarão a piar, as nuvens a evitar a chuva para ver de perto o Sol. E as coisas vão continuar, de uma forma de outra.
"Disponho à minha volta todas as razões de uma verdade(...).
Disponho à minha volta todo o escárnio do mundo. E não preciso de ver a tua
fotografia que custou caro aos meus deveres económicos. Mas o nosso encontro é
no eterno e aí não há economia"(Vergílio Ferreiro, in "Até ao Fim")
E depois a bicicleta parou
o pneu parecia vazio e o Sol tardava em pôr-se.
O mar derrubou as sua próprias ondas contra as suas próprias rochas.
Voltou-se a ver, ao longe, um rodar lento dos ponteiros do relógio.
Tardou. Chegou lá, mas tardou.
Os ponteiros foram concertados. Uma vez colocados no seu sítio a
bicicleta voltou a andar. Correu. Tardou, mas chegou a tempo.
O mar sorriu, como um puto sacana que prepara alguma partida,
reflectindo o Sol sobre a estrada.
Voltou-se a ver, ao longe, o viajante nómada, contra as nossas próprias regras,
chegando a casa. Tardou. Mas Chegou. E não tardará em sair outra vez.
"That taste. All I ever needed. All I ever wanted. Too dumb to
surrender."
(Kings of Leon in, "Arizona")
E as vertigens vão ficando cada vez maiores
Os sinais de trânsito não correspondem ao caminho marcado no visor
...
e não tenho tempo.
esqueci-me dele noutra estrofe. esqueci-me de acertar os versos com o horário de espanha.
esqueci-me de olhar para o lado antes de um carro passar primeiro que eu. esqueci-me de me levantar a horas e correr antes que o tempo acabe.
...
Os sinais não correspondem
...
As frases não se encontram facilmente,
as ideias voam entre os espaços em branco
Não fora a tipologia e escreveria sonetos
Escreveria mecanicamente, tal como agora, mas pior,
Não fora o computador e nunca daria tantos eros orrtográficos
não fora o corrector gramatical e sairiam muitos mais
Cala-te, por favor, que tento ouvir aquela voz,
só mais uma vez, para ver se chego antes dela,
para a ver chegar.
...
piam do ninho para o céu, pedem à chuva que pare,
apenas por dois minutos, pelo menos até saltarem para outro ninho.
e a chuva parou. e as estrelas confirmaram a passagem para o dia
e Sol voltou a abrir brechas na janela - e a porta ficou aberta para sempre
...
"Ao meu coração um peso de ferro
Eu hei-de prender na volta do mar.
Ao meu coração um peso de ferro...
Lançá-lo ao mar."
(...)
(Camilo Pessanha, "Canção de Partida")
"Tu és Forças, Arte, Amor, por excelência! -
E, contudo, ouve-o aqui, em confidência;
- A Música é mais triste inda que o Mar!." (...)
(Gomes Leal, in "Claridades do Sul")
"Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcio
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro / morto e nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar"
(Mário Cesariny, "radiograma")