quinta-feira, 28 de julho de 2011

Galiza (II)

Os rios, os montes e as serras
roubadas p'lo betão armado
E os gritos negros no céu
e as manchas sangrentas no mar
são orgulho da sociedade moderna.
A cunha de uma moeda, única,
a árvore de longa idade
Galiza, roubada, violada, transformada
Sem barreiras de terra ou de flores
Sem defesas seus ecos de revolta.

terça-feira, 19 de julho de 2011

foste educad@ acreditando num sistema
não faltaste às aulas porque sabias que a tua vida dependia da escolarização
falhaste com os teus impulsos porque a liberdade é saber conter os impulsos
e as bombas que não rebentaram nas tuas mãos não rebentaram em mais lado algum
choraste as lágrimas de sal
que rasgando o teu rosto formaram poemas da revolta
sem chão sem céu sem palavras para a descrever gritaste os impulsos antes escondidos
mas hoje não sabes como se era humano antes do tempo da nossa democracia
e as palavras são todas cuspidas e ninguém sabe como te chamas
choraste lágrimas de sangue
porque perdeste a pedra que guardavas no bolso
eu juro-te que vais saber mandá-la quando a encontrares
mas que grites a tua alma e a da humanidade
livre dos preconceitos ridículos que aprendeste do que é ser-se humano
livre da prisão que o estado oferece como escolha e livre-arbítrio
hinos? querem que cante hinos?
não... eu não tenho mais uma cor...
tenho versos que me servem para agir contigo companheir@
tenho gritos que servem para gritar ao teu lado companheir@
tenho lágrimas para chorar contigo e medrar na terra que nos criou
porque a terra não inventou o parlamento
nem o teclado que agora bato
e como estou farto de falar para o ar
vou fumar mais um cigarro
e assumir a minha escravidão
porque amanhã
estarei à tua porta
de punho cerrado
e uma pedra no caminho
para chutar até achar a outra

esqueceste-te que não tinhas de ter um cão para se humano
esqueceste-te que não tinhas que ter um telemóvel para ser amad@
esquecemo-nos que não é do emprego que nasce o trabalho
esquecemo-nos que não somos autómatos nem pilhas de carga
mas somos
e ficamos
sós

juntos entre a podridão de uma ilusão republicana
democrática moderna e global

como me fodem os teus conceitos
como me apetece esquecer os princípios básicos do senso-comum

Mãe... chegas-me as bolachas? Eu, sozinho, não chego à estante de cima...
Claro filho... Tens aí o banco... tenta não bater com a cabeça na esquina do móvel...
Agora ala... Beijo... Chichi... Cama...
Como :) te amo...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

contacto

Finjo que os olhos não correm porta fora em lágrimas
O peito não se abre em vendavais
As mãos não gritam palmas de saudades

Finjo que o teu sorriso está aqui
Os teus poemas são todos para mim
As cordas do baixo vibram no meu plexo solar

Finjo que a Corunã é ali nas tílias
E nem me importo com as nuvens de tabaco
De repente é perfume e eu toco pianos de sorrisos


Finjo, tudo isto é vida de fingir que estou feliz
Até ao momento que mesmo que dure um só momento
Seja aquele que me cola perpetuamente o teu abraço
Ao resto dos meus dias

quarta-feira, 13 de julho de 2011

a vida é tão curta
e a tua imagem no meu coração longa demais

se temo a morte
é porque te tenho na vida

quinta-feira, 7 de julho de 2011

As fontes do segredo

Descoberta a razão das fontes
resta-nos a transparência das suas águas,
a ausência das aves que nela bebem
o frio mármore que esculpe a forma transparente
com que fitamos o fundo,
guardador de lembranças e promessas
já antes desfeitas em carências de pares que se olham,
num indizível movimento de pestanas,
fugaz memória do amor que ali os trouxe num
sopro de indignação,
jurar a morte a quem ouse descobrir
o segredo das fontes.