quarta-feira, 5 de junho de 2013

As roxas

Três dias por semana, num tapete negro, emoldurado de amarelo-torrado com laivos verdes.
Salta-me aos olhos roxo! São pequenas pétalas roxas. Que estão ali, presas a um caule.
E, olhar sim olhar não formam ilhas de roxo.
E dançam a melodia, por vezes agreste e descompassada, de um pedaço de vento que alguém ali deixou.
Penso que podem ser perpétuas roxas. Elas nada assumem.
Não paro, ainda não cheguei. Mas vou ficando mais perto.
Ainda faltam todas as outras arvores, que parecem correr em sentido contrário ao meu.
E as duas ou três povoações que comungam do mesmo lençol de alcatrão, o mesmo que lhes encaminha visitantes e lhes aconchegou a partida de muitos inquilinos.
E questiono-me se aquelas pétalas, as que eram roxas, serão realmente perpétuas.

2 comentários:

  1. FEBRE VERMELHA,
    António Pereira Nobre, Só

    «Vermelha Rozas de vinho! Abri o calice avinhado!
    Para que em vosso seio o labio meu se atole:
    Beber até cair, bebedo, para o lado!
    Quero beber, beber até o ultimo gole!

    Rozas de sangue! Abri o vosso peito, abri-o!
    Montanhas alagae! deixae-as trasbordar!
    As ondas como o oceano, ou antes como um rio
    Levando na corrente Ophelias de luar... (...)

    Chagas de Christo! Abri as petalas chagadas!
    N'uma raiva de cor, n'uma erupção de luz!
    Escancarae a bocca, ás vermelhas rizadas,
    Cancros de Lazaro! Feridas de Jezus... (...)

    Dae-me do vosso sangue, ó flores! entornae-o
    Nas veias do meu corpo estragado e sem cor: (...)»



    Não sei porquê lembrei do simbolismo decadentista cheio de cores e sangue!

    gostei bastante, como tem vindo a ser usual, meu caro

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  2. «Amo o vermelho. Amo-te, ó hostia do sol-posto!
    Fascina-me o escarlate. Os meus tedios estanca:
    E apezar d'isso, ó cruel hysteria do Gosto,
    Certa flor da minh'alma é branca, branca, branca... »

    será realmente branca a flor, será realmente a flor?

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