quarta-feira, 29 de maio de 2013

Cooperativo

Porque é que não datas os poemas?
Porque é que os teus não têm título.
Ando a pé e de autocarro e de comboio.
Passei em todas as zonas apenas com um triciclo.
Com três rodas não chego a nenhum lado.
Talvez porque não saibas um deus.
Talvez porque não quero chegar a lado algum.

Quantos poemas tens?
Tens uma data deles, sem data?
Quantas rodas te chegam para não ires a lugar algum?!
Quantos sítios? Quantos sítios, quantos ciclos, quantos círculos, quantas voltas?
Quantos trilhos andados sem um Deus errante, quantas paragens de estação?
Quantos caminhos, de ferro, quantos metros de bilhetes, quantas horas de alcatrão?

Jõao Sousa e Hélder

2 comentários:

  1. 122, mil e meio centésimo de 1/4
    é uma data deles sem data deles
    todas as rodas servem para não ir, mas rodas
    não há sítios... há uma cabeça cheia de nada, com espaço para os sítios todos
    sempre às voltas, sempre às voltas
    não gosto de um Deus errante... prefiro o que sabe matemática... e que sabe a caril também!

    too many alcatrão for my little space in the little head... (mira que anglosaxão - EL GRAN CALHAU ESTUVO AQUI!)


    ...

    agora a sério

    ...

    viva o eco


    obrigado companheiro zéldex!

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  2. O poema - feito e dito - é uma data de datas com legítima tendência a - com justas pretensões a - possibilidade de poema. A data, ou a rasura dela - a data, ou a mentira dela - [a data ou a promessa dela] (a rata data a pata, a pata rata a data) faz companhia, aconchega, traz o jornal, afasta o ladrão (e o mau olhado) e não dá comichão. A data rasurada promete mentira. A data prometida rasura a mentira. Não só dato como localizo, não vá perder-me ou não vá o calendário do sapateiro ter décadas [com os seios da moçoila já amarrotados]. Há que ser cuidadoso com o não ter cuidado algum. Isto, ponto número um.
    Ponto número dois: Aconselho fervorosamente uma revisão dos pressupostos de cordialidade - vulgo, dos farpados convénios do bom trato e da boa educação -

    [esperem um pouco. vou comer um caldo verde, venho já...]


    [está quente, a sopinha. há que comê-la devagar.]



    Ora bem, dizia ele que seria uma atitude ajuizada - uma cavalheiresca deliberação - [uma polida e briosa sentença] introduzir nos manuais de Língua e Cultura portuguesas para estrangeiros, justamente ao lado (ou debaixo, ou entre) de outras estruturas usadas numa interacção de cariz (e raiz) linguístico, a estrutura indagativa e perscrutadora "Quantos poemas tens?". É útil, faz boa vizinhança e permite lutar por uma medalhita no próximos jogos sem fronteiras. [Por ex.: -Boa noite. O meu nome é Pedro Gil Pedro, sou natural de Lisboa, tenho trinta e dois anos e um milhão de poemas. Fui vice campeão de bilhar na categoria de... E por aí adiante.

    Ponto numero três: Os passos em torno d'Os Passos em Volta anulam-se autofagicamente. A coisa toda da coisa nenhuma enclausura onde nunca se esteve. Há que ir verificando o nível de óleo (os níveis de álcool na memória), ou seja, as datas.
    Fez do calendário de parede o seu poemário.

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