porque para além de poesia experimental também existem experiências poéticas ... todas as actividades de escrita estão em igual alcance do homem como ele deveria estar com a natureza ... aequum : equidade, imparcialidade, igualdade
sexta-feira, 31 de maio de 2013
o vinho da vida,
é como se nascêssemos na ressaca da bebedeira que a vida deveria ser. como se acordássemos mais tarde, enjoados, adormecidos, ressacados desse vinho.
entornámos o vinho da vida sem sequer nos embriagarmos e nem chegámos a perguntar porquê, nem como, nem nada.
e embriagamo-nos apenas porque não nos embriagámos o suficiente.
batemos à porta da taberna em hora tardia. a noite é larga para nós e espera apenas pelo dia que mostrará a deformidade dos rostos embelecidos pela escuridão. tentamos sempre encontrar qualquer coisa neste chão, nem que seja o copo cheio da aguardente que adormece a força de encontrar outra coisa qualquer.
olhamos a nossa esfinge no espelho atrás do balcão, com desdém a ignoramos e pedimos o segundo, é só mais um, por favor. e viramos os olhos para a contemplação do nada, que fica no canto direito quando se entra. o canto direito olha também para nós e nós sabemos disso, estremecemos violentamente, vimos a nossa imagem pelos seus olhos, fundos de copos de vidro baço e destorcido, a verdade e a mentira, juntos. revelamo-nos como aparições num êxtase divino, ou nem tanto... tinto? não. hoje, apenas aguardente para o espírito, copo duplo. só tu sabias como a noite iria acabar mas nem por um momento decidiste repensar. chega!: que brindemos então na ressaca!!
Com que então, estamos de acordo
Perto de uma distância inalcansável –
globalização fértil e
destemida.
Brincam connosco
os senhores que a dominam
e unem-nos pelo poder de
uma língua.
Novas fronteiras de aço, coligam
actos de política e amor
profundo:
um só mundo e um só capitão.
Contra fatos não há vestimentas
Contra factos não há atos
Contra estes ladrões não há solução
“Ortografe-me a vida
também,
ponha em acordo toda a
minha identidade”
Ao fim e ao cabo só voltarão a comunicar
quando se assinar novo contracto.
É música para o teu gira-discos
a nossa ameaçada lusofonia.
1/11/2010,
Cáceres
aequum (errar é humano, o poema (a)corda)
“ÆQUUM
equidade”
equidade”
Que cansaço o de ser um ser.
Tédio para alma; Monotonia do olhar vazio!
Quebrarei, sem nada mais, tudo…
Tudo aquilo com que me confronto,
para ter o conforto que procuro.
Sentir-nos-emos unos a certa medida,
e Encontraremos solução para tudo, e mais…
Sem querer, vamos colidir com o próprio Sol,
vamos ingerir o som da Explosão, da queda,
da Falta de Força com que as palavras são cuspidas
para o chão.
O Pó? Para que me preocupar com o pó
se um dia me tornarei tão empoeirado como ele mesmo?
Prefiro Soltar-me, quebrar Correntes,
partir o mundo em vários mares, Em que Navegue
sem rumo, sem Destino.
Vida!
Só Isso.
João Mendes de Sousa
17/03/2010, Montemor-O-Novo
porque, do álcool
amgi@s e companhei@s, quase 3 anos de AEQUUM. quase 200 poemas/textos.
desencanto do baú um dos poemas que gerou toda esta vontade imensa de escrever para ninguém, para um enorme nada, e para todos vocês também. O último de uma série chamada porque do álcool, de 2010. os últimos não são sempre os primeiros, isso é treta, mas são sempre prova de que uma destruição prevê automáticamente algo novo que nasce. sementes do caos... venham concluir esta coisa
desencanto do baú um dos poemas que gerou toda esta vontade imensa de escrever para ninguém, para um enorme nada, e para todos vocês também. O último de uma série chamada porque do álcool, de 2010. os últimos não são sempre os primeiros, isso é treta, mas são sempre prova de que uma destruição prevê automáticamente algo novo que nasce. sementes do caos... venham concluir esta coisa
VI – deus… (Conclusão)
Encontrei no céu,
um feixe de respostas.
Olhei-o junto às estrelas.
um feixe de respostas.
Olhei-o junto às estrelas.
Mantive o olhar,
e a cabeça erguida.
Um deus cuspiu-me na testa,
afastando-me a solução.
e a cabeça erguida.
Um deus cuspiu-me na testa,
afastando-me a solução.
*
João Mendes de Sousa
Fevereiro de 2010,
Montemor-o-Novo
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Cooperativo
Porque é que não datas os poemas?
Porque é que os teus não têm título.
Ando a pé e de autocarro e de comboio.
Passei em todas as zonas apenas com um triciclo.
Com três rodas não chego a nenhum lado.
Talvez porque não saibas um deus.
Talvez porque não quero chegar a lado algum.
Quantos poemas tens?
Tens uma data deles, sem data?
Quantas rodas te chegam para não ires a lugar algum?!
Quantos sítios? Quantos sítios, quantos ciclos, quantos círculos, quantas voltas?
Quantos trilhos andados sem um Deus errante, quantas paragens de estação?
Quantos caminhos, de ferro, quantos metros de bilhetes, quantas horas de alcatrão?
Jõao Sousa e Hélder
Porque é que os teus não têm título.
Ando a pé e de autocarro e de comboio.
Passei em todas as zonas apenas com um triciclo.
Com três rodas não chego a nenhum lado.
Talvez porque não saibas um deus.
Talvez porque não quero chegar a lado algum.
Quantos poemas tens?
Tens uma data deles, sem data?
Quantas rodas te chegam para não ires a lugar algum?!
Quantos sítios? Quantos sítios, quantos ciclos, quantos círculos, quantas voltas?
Quantos trilhos andados sem um Deus errante, quantas paragens de estação?
Quantos caminhos, de ferro, quantos metros de bilhetes, quantas horas de alcatrão?
Jõao Sousa e Hélder
quinta-feira, 23 de maio de 2013
A síntese das coisas sintéticas
Escapa-se o objecto sobre uma
distorção primeira
A energia original – substancialidade prima –
criou um eco que se escutou a si mesmo
caminho por si e em si caminhado
e para si criado numa condição imanente de esquecimento
Ressoa a constatação:
o encontro das paralelas dá-se no infinito
no infinito, nada sempre visto
convergem as coisas que se nos obrigam
a percorrer essas coisas mesmíssimas.
A dimensão de vitalidade,
halo que por excesso de sobreposição se nega a si mesmo,
constelação que de si para si se ausenta
torna-se-me equidistante, impossibilidade
em recusar a realidade da ilusão
A questão jamais será como fazer o corpo
mas, irremediavelmente, como ser o corpo
A energia original – substancialidade prima –
criou um eco que se escutou a si mesmo
caminho por si e em si caminhado
e para si criado numa condição imanente de esquecimento
Ressoa a constatação:
o encontro das paralelas dá-se no infinito
no infinito, nada sempre visto
convergem as coisas que se nos obrigam
a percorrer essas coisas mesmíssimas.
A dimensão de vitalidade,
halo que por excesso de sobreposição se nega a si mesmo,
constelação que de si para si se ausenta
torna-se-me equidistante, impossibilidade
em recusar a realidade da ilusão
A questão jamais será como fazer o corpo
mas, irremediavelmente, como ser o corpo
A síntese da imaginação – essa real
virtualidade –
-tricot cognitivo auto contraditório
–
põe-se agora em estado de coisa
problematizada
num zero formal unificante e intensificador
da sua negação necessária.
E porque flutua sabe-se corpo
unidade sintética da apreensão
-num “como se” nunca “para se”
que desimpede e desobstrui o
instrumento
para que este possa não ser como
sempre esperou
Esta antinomia do efeito
- este não que é sim exactamente por
sê-lo –
rasga o chão e abre fenda no céu
liberta, finalmente, a passagem para
o híper-orgânico que jamais o será
- excesso de não-si em si mesmo gera
o que procura negar
desprendido de alegações verbalistas.
[Nesta torrente
problematizadora
nesta guerra que as
sensações se fadam em se relacionar e não ser a guerra
expansão predestinada
porque inaudita
pouso ovóide a
cabeça e adormeço.
Acordarei agora para o
que me dizes…]
-Não dizes nada?
então, se me permites...
Constato possibilidades de
discriminar viventes
Coisas que vivem, por assim dizer não
dizendo
não disse vida, nem órgão nem ser
nada me o ditou
a coisa surgiu de tal forma, que tal
forma se me escapou
Há algo de nuclear no êxtase
sensorial
de captar existências por elas
próprias
extintas de um todo,
desenforcadas de uma cadeia
hierarquizada...
e há uma virtude soporífera
em escavar pelo umbigo de cada uma
dessas coisas
que se pré-existem a si mesmas
expressões omissas do conceito
determinado
Tudo luta por escapar à sua
palpabilidade
tudo peleja por e contra o seu útero
por e contra o conceito que busca e
de que se furta
compreender essa incompreensão
é meio caminho andado para voltar a
reiniciar todo o processo novamente
Ao não estarmos predestinados a tais
constatações
estamo-lo infinitamente mais do que
se o estivéssemos
E tudo mergulha nesta intensificação
da percepção,
da atenção-outra,
neste esquecer-me de mim, vector a
vector,
para que ao acordar, possa cair a
pique
de volta ao museu…
-É para estas merdas que
dizes para vir ter contigo? Enfim.
Vá, hoje faço-te um
desconto. Passa pa cá trinta paus?
-Mas percebeste ao menos
o que te disse?
-Claro que percebi. Vá,
trinta paus para cá...
que a voz de Nerval
também tem de comer.
(Évora, 4/12/2011)
nm-v
terça-feira, 21 de maio de 2013
poema de comboio #19
garagem
desvio para Tires, à direita
mais tarde… para o lado adverso
a avenida 1º Dezembro
mais pequena que uma artéria
perpendicular
“até amanhã!”
que simpatia a do motorista
stop!
al berto, onde estás?
porque é que compramos as obras
se não cabem na mala?
464
estou perto de chegar a casa
até quando for casa
até quando houver estrada
passamos nas passadeiras
à mesma velocidade que tu
e tu não cabes na mala também…
agente de fidelidade…
algo me soa tão traiçoeiro
no teu letreiro branco
o viaduto
a garagem ao lado do viaduto
e da rotunda
pedra
esgotos
saídas de água
desvios para Tires
que engano o nosso?
este, aqui no lado adverso.
quinta-feira, 16 de maio de 2013
...
Olhava de lado. Desconfiava sempre da luz amarela dos candeeiros que atormentavam o quarto por entre os buracos do estore. Os camiões carregavam em simultâneo o ruído e as mercadorias - símbolos da distância duma nova aurora. Os sonhos tornavam-se autoestradas, e vagueava entre as portagens da alma e os postos de serviço que a despertavam para a vida.
Não tinha carro e sabia bem como andar entre os comboios e os autocarros da vila. Sentava-se ou ficava de pé numa das carruagens do metro... e olhava como só as carruagens à frente se moviam. A sua estava parada mesmo com o metro em movimento.
Os pensamentos paravam entre as estações, e as recordações faziam um jogo sujo entre o passado e o desejo de um futuro. Os frutos da sua imaginação cresciam nas árvores asfixiadas pelos tubos de escape, pelos bêbados que as mijavam e circulavam no próprio vómito e barulho. As festas internas da sua convicção estavam fechadas a um número específico de emoções, só algumas tinham entrada-livre.
A porta do autocarro abria em cada paragem - as velhotas entravam e atrapalhavam-se, contado trocos e pedindo desculpa ao poste fixo no meio do autocarro, convencidas de que iam contra alguém. A poesia nascia entre os prédio cada dia mais altos - versos cada dia mais baixos, lágrimas cada dia mais soltas.
Os candeeiros apagaram e o Sol acendeu o resto da casa. Era dia, e a noite não queria mais adormecer. Com esforço, olhando para os bilhetes pré-pagos, bebia um café e fumava o primeiro de muitos cigarros. Impressionantes, as figuras do fumo espelhadas na alma.
JS, http://relatourbanoalgp.blogspot.pt/
terça-feira, 14 de maio de 2013
poema de comboio #15
um poeta inconformado e uma noiva
descalça
o percurso dos autocarros tem variado
não só as obras o obrigam
como o trabalho o manda
perdi o sapato subindo os degraus
quando o sonho é assim, alto
a queda dói sempre mais
uma noiva inconformada e um poeta
descalço
um entorse da alma é incrédulo
mas a realidade parece tão baixa
que só no alto dá para sonhar
as paragens, quase sempre as mesmas
dão tempo para ver o caminho
segundos de pura felicidade
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Parede
Agulhas
investigando na carne
procurando
o coração lilás dos corpos
coisas
que têm nome
e
são leves como penínsulas.
Desarrumam-se
as aparições
nas
molduras de ouro,
formas
que se furtam ao dedo
e
carregam o odor visceral do sonho.
Na
parede grita o coração da parede...
Corpos
com estátuas dentro,
esticando
o braço ao horizonte
-
o ébrio braço, o horizonte –
procurando
os bandos de aves marinhas
que
são povos derrotados em terra
leves,
agora, como folhas, deslizam sobre o vinho.
Do
vinho ficou o nome
e
a caixa de madeira para guardar os ossos
quando
já não servem para marcar os quadrantes.
O
longo pescoço das flores, as fogueiras
a
lâmina quente cortando a cara
pelas
rugas.
Subestimaste
os anos e as estações
deitaste
na cama o rumor das bússolas
-
os torneados corpos das bússolas –
Subestimaste
o norte, o leme e a voz...
A
carne rija das paredes
frias,
como o nome das coisas que são frias
fala
devagar misturando dialectos
explicando
a evolução das cores
das
mais quentes para as outras
e
justificando a monstruosa textura da cara
quando
pronta a morrer
A
casa está vazia. Mas há uma voz.
Há
um canto maior, um batimento
uma
vibração cíclica
...talvez
uma palavra repetida até ser água.
Procuro-te.
Escavo
com agulhas a parede
até
ao osso, até à estátua.
Procuro-te.
Procuro-te...
nm-v
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