quinta-feira, 28 de outubro de 2010

tenho uma estranha dor no estômago
mas está tudo bem, no entanto...

nova vida, nova quebra, nova queda, nova subida
é tudo novo e assim será por mais tempo...

mando um abraço a todos vós já que me sinto sempre abraçado

beijo-te a ti, para já, fico quente e sossegado

terça-feira, 26 de outubro de 2010

boa noite

diz-me boa noite e se já não Acordar dormirei bem...
diz-me boa noite para que ela tenha a luxúria de um sonho que perdure pelo dia adentro.

diz-me boa noite quando for de outra matéria o meu ser,
diz-me de outra forma, num suspiro que vibre no peito que não tenho.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

contrapõe-te
vira-te de frente para as costas da cadeira
parte-lhe duas pernas, encosta-a à parede
senta-te

enquanto isso, farei contas de cabeça
e vou tentar adivinhar por quanto tempo
te aguentarás de pé

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

entre as nebelinas anónimas do onírico
desesperei sem ouvir resposta.
porque nem sempre a certeza é a única verdade.

sábado, 16 de outubro de 2010

Vertigem e Espiral

«(...)perseguições pessoais? já não há ... esgotaram-se ... disso que se encarreguem os "piquenos". Persigam-se uns aos outros. Compliquem-se que "a gente" simplifica.»

«até lá podemos oferecer tantos produtos quantos forem necessários para reinar:
destruamos mercado local; criemos dívidas a nível abissal; enterremos velhos ódios e coloquemos em espiral todas as questões da vida individual; derrubemos barreiras económicas que a UE em breve nos receitará à vertigem "efeémeiesca"; calemos a boca a cada um pois só teremos uma boca para alimentar ... a de quem já a tem cheia...

facilmente conseguiremos aprofundar a espiral: "empurre com a barriga por favor"; "arraste mais um bocadinho para ao lado... ora aí está... era mesmo aí" ; "bolas de neve à vista".
mudemos os sinais das portas da segurança social... acho que há por aí numa dessas enormes lojas uns sinais muito mais interessantes (meninos, meninas, patinhos, wc, por aí...).

nem a língua nos pode parar... porque há de ser toda uma... a língua há de ser, finalmente, um valor para a troca, não identidade cultural... Que é isso? Pouca Vergonha! De que é que vos serve identidade se já não há perseguições individuais?»

TODOS NO CHÃO! «Acabou-se pá...
as perseguições agora serão feitas a todos de forma igual ... vós sois todos iguais e acabou-se a fantochada...»

«esforço colectivo...
...fim às reformas, fim aos benefícios...
para quê baixar salários aos senhores que nos dão toda esta oferta ocidental? para quê apanhar verdadeiras fugas ao fisco? o fisco está fora de moda...»

...

ai minha mãe...
...

en la plaza de mi pueblo
dijo el jornalero al amo
nuestros hijos nacerán
con el puño lebantao!
...
«calem-lhes a boca por favor, que ainda não acabei o discurso pá!»

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Declaração de IRS

Declaração de IRS


São tripas amor, são tripas...
Flores não são, são antes tripas amor...

Digestão.

Era a voz do povo um grito poético visceral, grasnidos de dor abafada pela luta.
Ás portas dos senhores da terra estendiam metros de tripas palpitantes,
reservando as extremidades, que se estreitavam numa proporção orgânica, para os presentearem mais tarde com belas gravatas. Gritavam alto sem palavras ou outros artificies: Com rejúbilo entrego meus intestinos grossos para que com eles possais fazer as meias de um natal; entrego-vos a pele gasta de trabalhar ao sol para que, dando-lhe um avesso preciso, possais estufar vossos bancos presidenciais; espero que não necessiteis de muito mais, mas acaso pela pátria ou por vossas excelências que me governais me sejam pedidos sacrifícios demais, eis-me aqui, sem outra vontade, com os meus pés, atenteis que já sem pele os laivos azuis e vermelhos também irão escurecer, mas têm calos pesados que darão um lindo pisa papeis; mas se não for do vosso agrado não vos preocupeis, com algum zelo vosso disponibilizarei ainda o meu outro, pois parece que, cerrado um pouco acima do tornozelo, sendo perfeitamente simétricos farão com certeza uma obra pós modernista se ainda encimados forem por uma seca flor vermelha, caso tenhais a bondade.

Absorção.

Senhores da terra –gritava o povo- vereis que maravilhas podeis ainda fazer com o meu dobrado esqueleto, na sala quinhentista, lado a lado com os javalis e os veados nem notarão a diferença seus ilustres convidados. Como me havíeis assim ajudado a desfrutar de vossas riquezas, numa quase mesma medida e nas restantes gerações diante de vossas mesas.

Secreção.

Ó colossal poderio! Senhores da terra mas não a dos meus pés, não enquanto for eu a pisá-la. Filhos da puta!

adormecidos

Será na pressão do tempo que está a causa da dormência?

Levanto-me, às 9 da manhã, ligo a máquina do café que a minha avó deixou armada,
bebo o café e como uma torrada,
visto as calças de ganga e, como que num ritual, acendo um cigarro na entrada da casa...

As nuvens já me disseram tudo por agora...
...só me resta ouvir-vos a vós.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

sem ar

Espaços do silêncio
preenchidos a negro,

exaltante esperança
perdida no vácuo.

Guardo perfumes, frascos, vazios,
dores enterradas na areia,
e parto num rumo quebrado
já tarde ... sem fuga.

Pérfidas lâmpadas
de uma noite triste,

amarelos sorrisos
sem maré, sem volta.

Regressos. Palavras vãs
inócuas, áfonas...

Já não sobram certezas
entre a solidão.

joao m sousa 16/agosto/2010
[uma das versoes deste mesmo poema...]

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Dois Pensamentos do Conde no Reino dos Perdigotos

Não sei porquê, mas deve de estar relacionado com ser eu a única pessoa a gostar de almôndegas com hortelã...
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O facto de eu não ter o hábito de contar o que faço com a minha namorada não tem a ver com querer esconder que tenho um lado muito sentimentalista. Apenas ninguém tem nada a ver com isso

Couves Frescas

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

chuva

C a i e m p e d r a s c o m o t e m p o r a l
a p a r t a m - s e n o ç õ e s d a t r a n q u i l i d a d e
e c o m o s n e r v o s p r o j e c t a d o s c o n t r a a l ó g i c a
p e r d e s - t e n a i r a
abraças o d e s c o n t r o l o
...

joao m sousa
9 do 10 de 2010
fico pasmado
ultimamente dizem-me coisas...
todas as coisas me dizem algo
todas as noites falam demais

fico sem mais palavras
quando as dizem todas por mim
quando me encontro nas palavras de outros
ultimamente, dizem-me tantas coisas...

tranquilo
finalmente um momento de espera
finalmente uns dias em paz
quando me dizem tantas e tão belas coisas

domingo, 10 de outubro de 2010

noite noite noite

noite
manto de luzes a subir a pulso o meu céu
e o breu do firmamento é nú e frio e voa ao vento
e eu em desalento procuro o amanhecer
queria que fosse já sol para ter raios de luz na escrita
circunscrita a prosa e a minha vontade de ser estrela
noite noite noite na sucessão dos dias
e tantas foram já que já não sei as horas
perdi-as no desiluminado céu que me entra pela janela dos olhos.
V
A noite fechava-se nos olhos do mar
e o mar cantava de boca aberta.
A noite escurecia
a testa do mar.
Adormeciam de costas as rochas.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sátira Conjunta

Mijei na nossa senhora,
mirando a Via Láctea.
Avé Maria. Venha a nós o vosso reino.

Ai que rebento de me rir
gargalhadas de bexiga vazia.
Acho que isso está muito bem.

João Sousa & André Pires Calvário
30/09/2010 Nsa. Sra. Montemor-o-Novo

...

passei a noite sem esta sebenta,
sem espaços em branco para de negro preencher,
mas não foi saudade - foi só sentir falta,
não ter o sítio certo p'ra me descrever.
Mas há tantos espaços em alvo vazio
que esperam um dia para ser rasurados,
e só pela tarde, perto das 4,
é que dei por mim a escrever de novo.

João M.Sousa 07/10/2010 Castelo Branco

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sigo meio-vivo

Sigo meio-vivo,
balanço na desilusão.
Sinto o prurido,
vejo o meus olhos, irados
[traídos pelos sentidos]

São induzidos em erro
[e choram a histamina.
Combatem a substância da falha.]

Para lá do azul...quem és?

Para lá do azul repousei os meus olhos
Deitei os cabelos em novelos de nuvem
Abri o meu corpo em searas de filhos
Adormeci na sombra de amplas copas
Não acordei sacudida de chuva
Não ardi na fornalha de oblíquos raios
Molhei apenas a minha alma nos orvalhos
Gotículas de papoilas e outras pétalas
Recolhi-me em ninhos de cegonhas
Cantei nas asas melódicas dos gaios
A minha flor de Maio ficou púrpura
Ao olhar o mundo revi-me vezes sem conta
E a usura da vida remoeu-me o peito
Quantas vezes quis eu dormir ao relento
Em planícies em estrelas abertas de noites frias
Para aquecer o nascer do sol num grito
Arqueando as costas num gesto aflito
De quem não sabe ter prazer senão todos os dias
Numa exigência inegociável de sorrisos
De abraços e desejos lidos no vento
Assobiados nas cantigas de amor e tédio
Searas inteiras de Alentejos perdidos
E eu a ler as linhas do meu corpo como um mapa
Para chegar a mim como botão de campainha
E responder-me : quem és?

Quase

 

Noite
Quase
Atravesso
É do outro lado
Deste lado adormeceu
Acordo-me nos ruídos
O Sol esperguiça-se.
Noite
Quase
E pensar que hoje foi manhã
E amanhã será noite
Outra vez

d'água

goteja
sobre a testa franzida
escorre suor
pinga do nariz bate na rocha
chove
sobre a sombra dissolvida
água vem água vai
e ninguém se deixa calar
o silêncio
verte-se sobre a mesa
e cuspindo sobre a mesma
borram-se as letras
e fundem-se gestos

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

pedaço de um livro ainda em esboço

Será sempre um eterno ponto de interrogação que acompanha as frases, a vida. Serás sempre uma hipótese remota e breve de uma felicidade impossível de domar(...). O que é felicidade senão pequenas distracções da tristeza(...). Repito-me? É só porque, se existe algo como a certeza, é esta a única que tenho.
Serás sempre (...) um livro de viagens... um sopro de vento forte que me baralha as páginas; que me confunde o jogo de tabuleiro e me troca as jogadas, que revirou e me tirou do que eu chamava casa para habitar em pleno conforto(...)
(...)
Tudo isto para te dizer o que não cabe numa frase, num poema, num texto qualquer, numa música ou num som... dizer-te o indizível(...) Mesmo assim... encontro-te nas frase de um livro (...)

João M. Sousa

"Geometria do Adeus"

Os últimos dias da partida são um quadrilátero semi-circular...
...ao qual te esqueceste de contar os ângulos.
A geometria do Adeus não tem ângulos...
A hipotenusa desse aceno derradeiro,
...não conta somas nem subtracções.
Tudo é esquecimento.
Barro disforme. Lodo.
As linhas, paralelas e perpendiculares,
serão somente aquelas que viciaram os combóios.
Nos últimos dias da partida, as formas são esquecidas...
Os teoremas, refutados.
A matemática será só de ida...

...esperarei por ti noutra praia...

Declaração ontológica

Como podeis vós julgar-me,

se em vossos corações impera a falsidade.

Como podeis vós de antemão condenar-me,

se é de sombras feita a minha verdade.


Sugai o meu sangue! ó espíritos presos.

Atentai que sois vós meros servos,

daquilo que a mim me libertou,

e a vós condenou.


Ó sociedade dos infelizes, pobres árvores sem raízes,

fazei troça de mim antes do meu partir,

para que vossos olhos ainda me vejam a sorrir.


Lembrai-vos de hoje com saudade,

como uma festa mansa no coração.

Recordai-vos que onde hoje vedes maldade,

será amanhã a vossa maior gratidão.

chorar no deserto

lágrimas caídas em arenosos terrenos ...
daí nascerá nada mais que nada ...
vazio ... nem mágoa, que não há mágoa que aí crescesse.

lágrimas derramadas em solo seco,
aí talvez.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

horas

horas, carros, pessoas de passagem, passar do tempo como carros a passar; sento-me no banco, banco velho dos velhos – sabes o dos velhos: vermelho vivo, da praça onde os velhos, velhos se sentam- é vermelho vivo o banco dos velhos onde me sento também. andorinhas e minutos inquietos, rápidos passam sem forma, nem pedem licença, minutos e horas como carros e pessoas, aquelas ca pressa, cheias de pressa passam ca pressa por aqui sem tempo de um bom dia, um bem haja qualquer, como carros, passam com a mesma pressa dos carros, eu espero, o tempo não! passa, vai passando como carros a passar e como as pessoas que não dizem bom dia para o banco de velhos onde estou, novo ainda, sem saber que não sabia ser velho. sentado no banco vermelho vivo, as horas, indiferentes, passavam no relógio defronte, mais lentas do que os carros e do que as pessoas apressadas que não diziam bom dia, mas mais rápidas do que eu, novo ainda, sem saber que não sabia ser velho. parou um carro, sai uma pessoa e diz bom dia; o tempo, por momentos o tempo parou também. não respondi, levantei-me e fui-me embora.

nuno Cacilhas

caminho nocturno

piso pedras, calcetando com os chinelos,
e encontro novas razões de existência

calculo a distância entre o meu rosto e a pedra
imaginando, lentamente, como posso cair sem partir o nariz

doce vinho esse, ao almoço, que afasta o Cão do medo urbano
e nos conduz directamente ao âmago da nossa mágoa

grito, PORRA, fujo, SAI-ME DA FRENTE e, finalmente...
fecho a porta à chave para não me seguirem...
mas peço companhia à minha sombra, para me não deixar só

noctívagos humanos, noites sem sono, com a cabeça megulhada
em negros e sombrios pensamentos da insónia colossal
saiam de casa, sigam-me a sombra, corram comigo daqui


(as cartas que eu escrevi a morcegos de pedra,

são meras perdas de tempo, prantos de homem solto,

e a luz que me ofusca é só mais uma desculpa

para ficar parado nas ondas de um mar negro

obliterado, à nascença)

(... 2)

Há sempre aquele dia
Decide-se não dar importância
a absolutamente nada.
Belisco a pele... e não sei nada...
puro vazio.
Aquele dia em que não se dá o braço a torcer
Resiste-se a todas as fraquezas da emoção.
ignora-se quem nos enfraquece.
Acordamos com força, cheios de certezas,
partimos, sempre em frente, para onde for,
com a certeza de que nada terá real importância.
Eu sei que há sempre esse dia,
só não sei onde ele se esconde.

João M.Sousa 29/9/2010 EX-100 a caminho de Cáceres

(...)

O Sol voltou a derreter-me a nuca
Voltei onde já estou há tempo demais
mas a solidão é só aparente
afinal tenho cá quase tudo
Não sei bem o que me falta para além
daquilo que eu sei que não está.

João M. Sousa 24/9/2010 Montemor-o-Novo

"Tu" ou "O poema a vermelho"

A rua é onde despejas esses teus sentimentos
Mórbidos, o teu dia-a-dia presunçoso,
Os acontecimentos vários, que permanentemente te prendem
A essa ilusória realidade triste dos mortos.

A casa é onde teimas em permanecer sentado
Nessa poltrona cheia de pó e de recordações vazias
Que não te mostram
Nem te fazem vislumbrar
Aquilo que foste, nem o que serás.

É triste, isso sim - o viver-pensante deixar de querer existir.
Quando dá aos outros a possibilidade de escolherem por ele.
Quando se resigna perante o seu próprio semblante ressabiado com a realidade.
Quando julga que vê aquilo que quer olhar.
Quando deixas de ser tu, para passares a ser só mais um outro.

Tenho um armário cheio de canetas secas.
Mas esta, moribunda e só, é a que escreve.
Pena é que seja em vermelho.

Rodrigo Antão [03 10 2010]

domingo, 3 de outubro de 2010

Antão (Sem Títulos)

Sem títulos divagas entre a certeza de que nada é certo.

A cidade berra-nos aos ouvidos ... "quem és?"

Porra... é que não há objectivismo que nos valha.
sonharemos então ?! pois claro que sim...
... ai de quem me disser que o sonho é só sonho ...
e se for? aqui na palavra não desígnio ... nem certeza ... nem nada...

a solidão das palavras faz-nos então passear entre as ondas do silêncio desejado

mais tarde ou mais cedo fecharei os olhos vendo o sol queimado, nas pálpebras

e os fumos que nublam as luzes citadinas, serão faróis para os sonhos, para o mundo por nós criado.

o ser humano , já te disse em tempos , não se contenta com nada que o sol lhe possa dar
é triste...
tanta complicação para, no fundo, ser tão simples... antão? não é simples?!

...a palavra de ordem é "CAOS"
...a palavra objectiva é "ABSURDO"

João M. Sousa ... A Rodrigo Antão
talvez em 2009, talvez em Castelo Branco, talvez em Portugal

(Sem título)

Não durmo.
Reviro-me na cama,
Cansado e tresloucado,
Imbuído na sombra daquilo que nunca fui.

Sonho acordado.
Oiço os carros na rua,
Numa cidade que não dorme
E que não me deixa a mim dormir.

O sono não vem.
Sinto passos no piso de cima,
Recordando-me de uma solidão que para mim escolhi.

A escuridão permanece e por mim vai passando.
Resolvo sucumbir aos encantos de um outro mundo.

E lembro-me que todos vamos morrendo aos poucos.

Rodrigo Antão [29 09 2009]

sábado, 2 de outubro de 2010

(...)

um Homem
que procura em si mesmo toda e qualquer razão
de sua existência, de sua vivência (efemeridade)
respira fundo, por momentos, observando navios. (falta de destino)
se ao menos tivesse a certeza de que os pássaros não sabem cantar à noite!
(à noite, todos os cantos são escuros)

as melodias repetidas constantemente
(exaustão) provocarão com certeza determinadas obsessões
(ARRITMIA) e a teimosia desse mesmo Homem em continuar de pé
irrita quem quer que seja (que chatice)

...